segunda-feira, 23 de julho de 2012

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DIAGNÓSTICO / SUSPEITA PRECOCE DO AUTISMO INFANTIL


Médico do André Luís Rian em BH.

Dr. Walter Camargos Jr.
1. INTRODUÇÃO
Inicialmente acho interessante contextualizar o presente tema na minha trajetória profissional. No início da década de 90 eu me contentava com diagnósticos firmados aos 7 anos e no fim dessa década eu ficava feliz quando crianças de 4 anos chegavam para avaliação diagnóstica. Neste período eu trabalhei num hospital psiquiátrico infantil em Belo Horizonte e tive uma única oportunidade de atender um bebê com suspeita de autismo, que não aderiu aos tratamentos necessários. Desde o início da década de 90 trabalho em um hospital público de pediatria como consultor em psiquiatria infantil onde tive várias oportunidades de examinar a acompanhar bebês com sinais de autismo em gravidades diferentes. Essa questão produziu uma repercussão muito interessante entre os diversos profissionais do hospital sobre essa possibilidade / realidade ainda não revelada à eles. Isso me marcou muito pelo interesse e surpresa dos profissionais com essa possibilidade (suspeita de diagnóstico de autismo em bebês), e baseado na informação de FOMBONNE (2003), de que aproximadamente 60% das pessoas diagnosticadas como tendo autismo já apresentavam sinais quando bebês, decidir fazer um projeto de vídeo sobre esse tema. Esse vídeo foi editado em setembro/2009 e está no site da Fundação hospitalar do Estado de Minas Gerais disponível para os interessados.

2. AS EXIGÊNCIAS PARA QUEM EXAMINA BEBÊS
Pesquisando no pubmed com os descritores “infant e autistic disorder” (idade até 23 meses + espectro autista) com os seguintes limitadores: humanos, pesquisas clínicas, revisões, bebês de até 23 meses de idade, publicações dos últimos 5 anos encontrei 83 artigos, versus 68 para os descritores “infant e S. Down” com os mesmos limitadores. Isso me leva a pensar que pouco se sabe ainda sobre esse tema e o que parece é que muito pouco se sabe / estuda sobre bebês com transtornos do desenvolvimento.
É rizível pensar que os sinais e possivelmente os sintomas   do autismo em bebês seja diferente do que encontramos em pessoas de mais idade já que o transtorno é o mesmo. Então porque é tão difícil pensar / imaginar / identificar tais questões. A resposta está na inflexibilidade psíquica e clínica de quem examina o bebê já que espera encontrar o mesmo quadro que está acostumado a identificar nos de mais idade. Porém o bebê tem uma estrutura psíquica e física completamente diferente / imatura e é justamente  porisso que precisamos “fazer uma ajuste” dos sinais para essa estrutura que encontramos no bebê: ao invés de vermos um bebê correndo de um lado para outro veremos um bebê que não fica quieto no colo da mãe, dorme pouco de dia e de noite. Ao invés de encontrarmos as queixas obsessivas típicas: se mudar de caminho para ir na escola ele dá birra, encontraremos, se perguntarmos, afirmações do tipo: ele só aceita uma determinada posição para ficar no colo, ele tem um ritual para mamar, dormir, etc. Quando o examinador ajusta “seu olhar” para esse contexto do desenvolvimento a identificação dos sinais fica possível.
Outra flexibilidade que o examinador precisa desenvolver é a capacidade de identificar os sinais parciais e de menos consistência, e os intermitentes e infreqüentes ao invés de só valorizar a presença e/ou ausência dos sinais desviantes do padrão do desenvolvimento. Ou seja o examinador precisa modificar a formatação binária da lógica: sim / não, bonito / feio, preto / branco, etc. Essa qualidade vai propiciar ao examinador identificar as diversas gradações sintomáticas na população afetada por transtorno do desenvolvimento onde as respostas, normais, esperadas serão menos freqüentes, menos duradouras, ocorrem em situações selecionadas pelas crianças, e dependem de significativos esforços e estratégias por parte dos adultos, mesmo os pais.
Diante da freqüente exposição do conceito desenvolvimento, até agora, o leitor deve concluir que o Autismo Infantil é um transtorno do desenvolvimento, pela lógica médica atual. Isso quer dizer que qualquer pessoa afetada pelo autismo infantil terá atrasos no desenvolvimento, independente do nível de inteligência.
Outro item importante para o examinador é ter em mente que o autismo infantil é um transtorno do comportamento, um fenótipo comportamental, e que isso não está relacionado nem a uma causa orgânica nem uma causa psíquica específica. Assim sendo uma pessoa pode ser acometida de autismo mais outros diagnósticos médicos como S. Down, epilepsia, catarata, hipertensão arterial, etc.

3. QUADRO CLÍNICO DE BEBÊS QUE FORAM DIAGNOSTICADOS COMO AUTISTAS AOS 3 ANOS DE IDADE
Segundo YIRMYA e OZONOFF (2007), a história inicial do autismo infantil tem três possibilidades:
  • A criança apresenta um desenvolvimento normal e depois regride com a perda  das habilidades;
  • A criança já apresenta um atraso no desenvolvimento e regride;
  • A criança apresenta um atraso no desenvolvimento e evolui adquirindo habilidades de forma progressiva.
A evolução no formato de regressão plena é a mais falada nas entrevistas de
Famílias, assim como documentários e apresentada nos livros textos, mas lembrando Fombonne não é a mais freqüente. Essa informação equivocada pode ser secundária ao “enorme” tempo de latência entre o início dos sinais e o diagnóstico, causando modificação mnésica nos pais. Outra questão é que a percepção real só ocorre quando há experiência prévia do assunto (presença de filhos mais velhos e/ou trabalhar com bebês), quando o transtorno autista é muito importante fato que gera significativo atraso no desenvolvimento, quando ocorre  concomitância de outras doenças médicas e quando há atraso na linguagem (que é inegável no 3. ano de vida – aos 2 anos de idade). Outro fator que prejudica a percepção é o estado psíquico especial em que as mães ficam nas primeiras semanas / meses do puerpério em que tem dificuldades de articular as percepções pessoal e da dupla com o bebê com a razão. Retomando a afirmação de FOMBONNE (2003), de que tais sinais já estão presentes na maioria dos bebês (60% dos casos) que terão posteriormente o diagnóstico de autismo e conjugando-a com a informação de que não é comum a história de distócia de parto (problemas no parto) dessa população, podemos pensar que esse concepto / bebê / pessoa já “funcionava” como autista durante a gravidez, ou parte dela. Como também sabemos que o relacionamento diádico mãe-bebê-mãe-.... já ocorre durante a gravidez é também esperado que para uma mãe normal, isso (o isolamento do bebê / a falta de retorno de sua busca de interação com o bebê) seja um fator de estranheza e desequilíbrio psíquico, até um fator gerador de sintomas durante a gravidez.
Do ponto de vista prático, talvez o mais fácil para capacitar as pessoas a identificar sinais de risco seja a capacidade de perceber as características normais e mais comuns dos bebês, que não são encontrados de forma consistente nos bebês com suspeita de autismo:
  • Alegria;
  • curiosidade;
  • prazer no contato físico com outros – o aconchego;
  • busca pela “atenção” das outras pessoas;
  • busca pelo olhar das outras pessoas;
  • alternância alegria / irritação e acordado / dormindo.
Pelos critérios de diagnóstico médico atuais (Classificação Internacional de
Doenças 10 edição e o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais., 4ª edição, respectivamente CID-10 e  DSM-IV) há necessidade da presença de sinais e sintomas em três áreas com início até os 36 meses. Mesmo diante de um quadro altamente suspeito, convencionou-se que o diagnóstico própriamente dito só seja realizado aos 36 meses. Até lá a criança deve ser qualificada como suspeita ou de risco. Esses critérios podem ser encontrados facilmente, razão pela qual não vou descrevê-los aqui, somente nomeando que há três domínios de prejuízo: interação social, comunicação e comportamento – restrito, repetitivo e estereotipado[4].
Como já falado a maioria dos sinais encontrados em pessoas de mais idade
também são encontrados em bebês e da mesma forma os transtornos da área de interação interpessoal são os mais importantes – nucleares. Os prejuízos responsáveis pela interação com a mãe e outra pessoa geram uma, enorme, cascata de incapacidades que são refletidos nas outras duas áreas como, por exemplo, o comprometimento da  comunicação verbal e não verbal.
O prejuízo dessa área já pode ser visto em nenês de dias através da forma mecânica e sem o namoro com a mãe ao mamar, sem a busca do olhar para a mãe nos diversos contatos de alimentação e higiene pessoal do bebê. É menos freqüente e consistente a busca da criança ao contato visual com a mãe e menos trocas comunicativas aos encontros com a mãe e outros. O aconchego físico pode ser rejeitado com a demonstração de sentir-se melhor no berço sozinho. Pode haver pouco sono noturno e diurno, e alterações na alimentação (muita ou não chorar para alimentar). O bebê pode não reagir a voz da mãe e de pessoas próximas, e também não reagir a um barulho próximo O bebê não reconhece o nome, fato comum a partir dos 6 meses, assim como não demonstrar alegria ao retorno da mãe. O levantar as mãos para ser retirado do berço e para pegar a mamadeira também pode inexistir  - a partir de 9 meses. Pode não demonstrar alegria com mudanças da mímica facial e corporal e nem emissão de sons às brincadeiras usuais de beijos, cócegas, música, etc. Por volta de um ano aoinda não aponta o que quer – comunicação protoimperativa e muito menos para partilhar interesses – comunicação protodeclarativa (mais importante). A fala expressiva também estará prejudicada e com 1 ano de idade ainda não falará palavras soltas. Outros sinais podem estar presentes, e estarão, com mais idade. O uso de questionários de triagem como o M-CHAT são muito importantes (vide anexo) e são feitos aos 18 meses. Os itens críticos que estão abaixo discriminados quando positivados exigem uma avaliação especializada pois há risco do quadro apresentado ser realmente autismo:
  • Interessa-se pelas outras crianças;
  • Aponta para mostrar algo de seu interesse;
  • Alguma vez lhe trouxe objetos (brinquedos) para lhe mostrar alguma coisa;
  • Imita o adulto (ex. faz uma careta e ela imita);
  • Responde/olha quando o(a) chamam pelo nome;
  • Se apontar para um brinquedo do outro lado da sala, a criança acompanha com o olhar.
Apesar disso o sinal mais fácil para todos, familiares e profissionais, é a resposta
ao nome. O não reconhecimento do som do nome representa uma falha na individuação da pessoa com tudo o que esse conceito significa.
Para os que tem muita intimidade com o assunto e com os critérios diagnósticos do DSM-IV, esse mesmo instrumento dito de baixa especificidade positiva na maioria dos quadros positivados pelo M-CHAT.
Interessante artigo de KLEINMAN ET AL (2008) mostra que aproximadamente 90% das crianças diagnosticadas como autista aos dois anos de idade mantêm tal diagnóstico posteriormente. YIRMYA E OZONOFF (2007) afirmam que as crianças diagnosticadas, com aproximadamente 2 anos, por Transtorno Invasivo do Desenvolvimento - SOE tem até  30% de chances de ter o diagnóstico modificado posteriormente. Tais artigos demonstram a importância / consistência do diagnóstico nesta idade.
Esse esforço visa buscarmos reverter a situação atual, tão claramente apresentada por SILVBERG (2003) que reporta que a latência média para o diagnóstico é de 1,8 meses para o autismo de baixo funcionamento[5] e de 5 anos para os afetados de alto funcionamento.

4. CONCLUSÃO
A suspeição da maioria dos quadros do atualmente denominado espectro autista pode ser realizada já nos primeiros meses na maioria dos casos. Como tais quadros são passíveis de melhoras clínicas significativas precisamos que essas informações circulem nos ambientes onde haja profissionais que atendem a clientela dessa idade, mesmo que sejam profissionais de outras áreas fora da saúde como creches, etc.
O conhecimento na área do Autismo Infantil também tem crescido muito em nosso Estado e País, mas muito caminho ainda há para ser percorrido e não podemos esquecer que essas pessoas com autismo são cidadãos brasileiros como nós!

[5] Autismo de baixo funcionamento é o termo utilizado para a associação de retardo mental profundo ou grave enquanto de alto funcionamento ou não há retardo mental ou é em grau leve

segunda-feira, 16 de julho de 2012

OS AUTISTAS E OS FRITADORES DE BOLINHOS





silvânia mendonça almeida margarida

 


Quem são os fritadores de bolinhos? Quem são? Como se fritam bolinhos? Bolinhos de queijo, de carne, de mandioca, tapioca, arroz, feijão, bacalhau, batata e carne. Bolinhos doces, gordura quentinha, passar bolinho no açúcar e na canela.  Há também os gostosos e famosos bolinhos de chuva. Para tomar junto com café quentinho, feito na hora, chá que não seja inglês, leite quente com chocolate ou suco de laranja. Bolinhos das mais variadas espécies precisam de um fritador. Alguém não tinhoso, que tem o conhecimento sobre o açúcar e o sal. Nem demais e nem de menos. Que saiba enrolar bolinhos, passar no ovo, na farinha, na canela e saber a hora de jogá-los na panela. Fritando e cantando, vão saindo bolinhos das mais variadas espécies e sabores. Não é preciso fazer nenhum curso para se fritar bolinhos. Tem que ter jeito e apreço. Bondade e vontade em oferecê-los. O cheiro vindo da cozinha...Traz abiscoitado o jogo do chocolate com o gosto da felicidade... Ninguém pensa em ir embora...vai para casa só ao anoitecer..
Ah... Não se pode duvidar, na temperatura alta da fritura, ela crepita! E adolesce! E gargalha! E depois cora... As mais arrogantes até se abrasam, permaneçam de olho nelas. Então, do nada, um bolinho nasce! E logo depois vem outro bolinho, e mais outro, e mais outro, e mais outro. É uma invasão de bolinhos... Depois de tanto dançar, eles adquirem o estilo da escumadeira dadivosa em direção a um repouso gostoso, o abraço acolhedor do papel toalha que deve estar organizado no prato cor de mel, sobre uma travessa para aspirar todo o exagero de óleo, naquele fechar delicioso dos olhos.Mas voltando ao assunto inicial, quem são os fritadores de bolinhos? Somos todos nós, basta querer.Transportando essa sabedoria para o cuidado com o autista, a minha experiência como gestora de bolinhos da minha cozinha, do meu lar, me mostrou que crianças e adolescentes  autistas são sensíveis à fritura dos bolinhos, sim. E gostam de bolinhos de chuva, de qualquer espécie. Gostam de passar o açúcar e a canela, deliciando-se com cada novo sabor.
É muito fácil explicar. Cada vez que um sorriso nasce no rosto sereno do autista é um bolinho estralando na cozinha. E como se pode fazer o autista gargalhar, crescer e corar como os gostosos bolinhos?Simples, acreditando nele. Transmitindo-lhe confiança, amor e esperança.As gargalhadas dos autistas-bolinhos não são sem causas aparentes, como dizem por aí psicólogos e terapeutas. Médicos e psicólogos convivem meia hora por mês com nossos filhos, dizem que autistas riem sem ter motivo.  Nossa, atravessam a vida falando tal bobagem.
Os autistas-bolinhos têm apenas uma risada cristalina e envolvente. Envolvem-se com a inocência, com a vida bem vivida, sem mistérios e sem segredos. Amam e desejam serem notados, por isto saem por aí dando risadas e procurando sempre a luminosidade (Sol ou Luz). A escola é o seu lugar. O seu logro para a felicidade. E esta felicidade pode estar tanto na escola como no seu lar, na sala ou na cozinha, bem longe do fogão é claro.  O autista tem sua própria forma de ver o mundo e se expressa de uma maneira diferente. Só através de muito estudo e contato direto e constante com os pais e com professores que também sabem dar risadas inusitadas, sabendo controlar o seu potencial de zelo e investimento no lazer e nas brincadeiras. Com certeza, os autistas participam  e assim inicia-se o entendimento de como as coisas funcionam.
E podem muito mais:        Os autistas se desenvolvem melhor em instituições educacionais especializadas, em que professores têm experiência com autismo;
        Programas comportamentais podem reduzir a irritabilidade, os acessos de agressividade, os medos e os rituais, assim como promover um desenvolvimento mais apropriado;
        Medicamentos que agem sobre o psiquismo não controlam os principais sintomas do autismo e devem ser evitados.
Certa vez, cheguei a uma escola para recitar com meu filho e a professora foi logo dizendo que aluno autista não sabe ouvir, porque ele não gosta de poesia, porque ele não gosta de nada. Para encurtar a ladainha, eu disse que mesmo assim queria tentar e o resultado não poderia ter sido melhor. Essa é a receita da verdadeira aprendizagem e da confiança em meu filho autista. A confiança nos filhos dos meus amigos.Então, além de ensinar o senso estético, as escolas e os professores precisam urgentemente compreender que o autismo ajuda a construir uma pessoa. Graças ao exercício de ler e recitar sobre o autismo,  vencem-se medos mais remotos. O autismo ajuda as pessoas a construir história, uma história todinha feita de palavra, estereotipias e luzes.O que falta é gente bem treinada para o exercício vital de mediar os ventos. Gente que se não entrega aos deslumbramentos das primeiras descobertas, algo como  a poesia enseja nas pessoas. Algo como ir para  a cozinha e ver bolinhos estralarem.



O crescimento dos autistas-bolinhos é como algo transparente e bem vívido.  Mesmo que a  gente conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma  humana, que seja apenas outra alma humana, nos dizeres de Carl Young.
    “ Compreender uma crença significa ter consciência de que algo     seja verdadeiro ou falso. Significa também a compreensão de que existem crenças falsas, isto é compreender que alguém  possa sustentar como verdade algo que não seja verdade, que  alguém possa estar errado, acreditando que esteja certo. Aos quatro anos a criança começa a perceber que a realidade contrasta com as aparências.  Compreender a mente capaz de representações equivale compreender que existem diversas maneiras de saber como...,   de ver como..., de sentir como...,e também de saber que..., de ver que..., de sentir que... “o sabor da vida, o saber da escola, o crescer da alma”. Conviver com o autismo é saber que as crenças existem,  é ser capaz de compreender a natureza  do autismo e das pessoas que não falam. É saber que as crenças residem nas  pessoas quando gostam de bolinhos, E logo depois vem outro bolinho, vem uma nova experiência com o autista, e mais outro, e mais outro, e mais outro. É uma invasão de bolinhos...  ou de autistas que são capazes de ser felizes. Na vida tudo passa.  Com o crescimento,  as crianças autistas intuem que as pessoas se diferenciam das coisas por possuírem uma mente. As suas orientações subjetivas organizam seus preceitos e começam a perceber os familiares e os amigos. Continuam todo este processo de conhecimento na escola e em espaços sociais.
Afinal, quem são os fritadores de bolinhos para nós e para os autistas?São aqueles que os amam de verdade, com alegria, com crescimento, corando a cada atitude sua.  Na chuva e no sol, no pátio de um ambiente de aprendizagem ou fora dele.


Afinal, o objetivo sempre é o mesmo.  Somos formadores de opinião e de alegria.  Temos que acreditar  que o cotidiano escolar é um espaço significativo de formação para a alegria do autista. É importante que a estágio pedagógico seja reflexivo, coligando os problemas para, em seguida, resolvê-los. Acima de tudo, que seja uma prática coletiva, construída por grupos de professores ou por todo o corpo docente de determinada escola que realmente seja inclusiva e aceite o autista como aluno-aprendiz-pupilo. Sendo assim, tem-se uma rica construção de conhecimentos em que todos se sentem responsáveis por esta luta. Dessa forma, acreditamos que contribuições desse porte têm grande valor para a discussão e prática da formação contínua, pois possibilita formações que têm como aprendizado recursivo a ação-reflexão-ação enquanto linha basilar direcionada para materializar um modelo construtivista de formação profissional do educador e da aprendizagem do autista.Todos nós somos fritadores de bolinhos e de conhecimento, quando se lida com o autismo.Não é no lar e na escola que existem cozinhas que fazem bolinhos de chuva?  É só fritar o conhecimento pequenino daqueles que precisam tanto de nós. E vários bolinhos surgirão para adoçar nossa sabedoria e nossa vida como pais de autistas. Basta querer!
 
Bh, 16 de julho 2012.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Quem são e como aprendem os alunos com deficiência mental /intelectual


Quem são e como aprendem os alunos com deficiência mental /intelectual

Os alunos com problemas intelectuais graves são aqueles cujo desempenho intelectual se situa, aproximadamente, no 1% mais baixo da distribuição normal da população. Tradicionalmente, eram alunos.

DEFICIÊNCIA (INTELECTUAL)

Os alunos com problemas intelectuais graves são aqueles cujo desempenho intelectual se situa, aproximadamente, no 1% mais baixo da distribuição normal da população. Tradicionalmente, eram alunos que apresentavam Q. I. com valores abaixo de 50 e muitos eram designados de atrasados mentais moderados, severos ou profundos. Além de apresentarem um funcionamento intelectual dentro do 1% mais baixo da população em geral, estes alunos apresentam, ainda, uma vasta gama de dificuldades associadas, como seja a surdez, cegueira, cegueira-surdez, dificuldades nos movimentos finos, comportamentos inadequados graves, incapacidade de comunicação verbal, incapacidade de andar sem ajuda, ritmos de resposta extremamente baixos e graves problemas de saúde.

1 - Característica de aprendizagem e comportamento
2 - O número de competências que podem ser adquiridas
3 - Número de repetições e tempo necessário para adquirir competências
4 - Esquecimento - Evocação
5 - Transferência - Generalização
6 - Complexidade das tarefas
7 - Síntese de competências

1 - Característica de aprendizagem e comportamento
A indicação de problema intelectual grave deverá significar diferenças, tanto em grau como em qualidade, em relação aos que não são assim designados. Ao compararmos estes alunos com os seus colegas sem problemas da mesma idade cronológica, eles evidenciam dificuldades no comportamento e em quase todas as áreas da aprendizagem. Estas dificuldades deverão ser contempladas individualmente e construtivamente nos programas educativos. Isto não implica minimizar uma realidade irrefutável e extremamente importante de que, embora intelectualmente diferentes, eles são cidadãos de pleno direito considerando várias dimensões como dignidade humana, direitos constitucionais, liberdades individuais, direito à educação e qualidade de vida. Abaixo vamos referir-nos a seis de entre muitas das características importantes da aprendizagem e comportamento e que são objeto de tratamento especial neste artigo.

2 - O número de competências que podem ser adquiridas
Desde o nascimento até os 21 anos, os alunos com problemas intelectuais graves adquirirão muito poucas competências comparativamente com os aproximadamente 99% restantes que constituem os seus colegas da mesma faixa etária. Deste modo, é extremamente importante selecionar as aprendizagens mais importantes para um desempenho efetivo tanto nos ambientes integrados e atividades imediatas como futuras. Por outro lado, não deveremos desperdiçar tempo letivo a ensinar competências que não sejam minimamente propiciadoras de uma qualidade de vida aceitável em ambientes e atividades integradas. Uma das estratégias a que podemos recorrer para determinar a importância relativa do ensino de uma determinada competência - o recurso ao "Perguntar por que razão..." – é nos apresentada por Brown, Shiraga e outros (1987).

3 - Número de repetições e tempo necessário para adquirir competências com um mínimo de qualidade aceitável
Geralmente, quanto maior for o atraso intelectual de um dado aluno, maior será o número necessário de repetições de uma dada aprendizagem, para que seja conseguido um desempenho com uma qualidade aceitável. Assim, deverão criar-se condições para que, individualmente e de um modo empírico, no tempo letivo do aluno se favoreça o maior número de repetições de uma dada aprendizagem. Por outro lado, deveremos evitar estipular aprendizagens com tempo determinado ao longo do currículo como, por exemplo, "Nas sextas-feiras de novembro vamos jogar bola", "Em fevereiro vamos aprender como fazer compras".

4 - Esquecimento - Evocação
O esquecimento define-se pelo decréscimo no desempenho de uma determinada competência adquirida depois de passar algum tempo e durante o qual ela não é exercitada ou é exercitada com pouca freqüência. A evocação refere-se ao tempo e esforço letivo necessário para reaprender uma dada competência e atingir um nível de desempenho semelhante ao inicial. Geralmente, os alunos com problemas intelectuais graves tendem a esquecer mais e a necessitar de muito mais tempo e repetição para recuperar as aprendizagens ao nível inicial do que os restantes alunos. Estes problemas de esquecimento-evocação sugerem-nos 4 princípios educativos:
1. Competências exigidas freqüentemente em ambientes não escolares, com os quais o aluno tenha geralmente de se confrontar, deverão ser objeto do programa do aluno.
2. Antes de incluir essas competências no programa de aprendizagem do aluno, deve confirmar-se que realmente cada uma dessas competências será utilizada freqüentemente se tiver sido aprendida.
3. Deverá existir um conjunto de serviços educativos ao longo de todo o ano.
4. Deverá existir uma coordenação e uma comunicação perfeita entre as pessoas relevantes dos ambientes escolar e não escolar.

5 - Transferência - Generalização
O desempenho de uma dada competência sob condições diferentes daquelas em que ela foi adquirida é designado de transferência de aprendizagem ou generalização (Stokes & Baer, 1977; Williams, Brown & Certo, 1975). Geralmente, quanto mais grave for o problema intelectual de um dado aluno, menos segurança temos em acreditar que as aprendizagens feitas em dadas circunstâncias se utilizem aceitavelmente noutras circunstâncias. Por exemplo, é muito pouco provável que um aluno, com atraso intelectual profundo com paralisia cerebral associada, seja capaz de transferir as competências necessárias para tirar 12 ovos de plástico de uma embalagem de ovos de plástico e colocá-los na seção de ovos da geladeira de plástico de uma cozinha simulada da escola, para a de sua casa, onde será necessário pegar em ovos reais, retirá-los da sua frágil embalagem e colocá-los delicadamente na geladeira.

6 - Complexidade das tarefas
Existe uma infinidade de tarefas complexas que podem ser adquiridas por alunos sem problemas e que, ou não poderão ser adquiridas por alunos com problemas intelectuais graves, ou o investimento na sua aprendizagem é extremamente desvantajoso e ineficaz. Memorizar a tabuada, fazer grandes operações de dividir, aprender os nomes dos Presidentes da República, ou cantar o Hino Nacional, são alguns poucos exemplos disso. Igualmente, pretender ensinar competências complexas que exigem tempo e esforço altamente desproporcionado conduz a desequilíbrios curriculares graves. Um claro exemplo do que acabamos de dizer é dar preferência à utilização de 2 horas diárias no ensino da categorização dos alimentos em 4 grupos, em vez de ensinar o mínimo necessário para preparar uma refeição simples, comprar o que seja necessário ou saber fazer o pedido de uma refeição num restaurante. A escola deve proporcionar o ensino eficiente e rentável das várias competências complexas necessárias a cada indivíduo e que sejam adequadamente equilibradas face às exigências da larga gama de ambientes integrados escolares e não escolares.

7 - Síntese de competências
Um aluno sem problemas intelectuais poderá aprender uma competência no domínio da matemática, outra no domínio da leitura e uma terceira no domínio da linguagem. A partir destas diferentes aprendizagens, ele será capaz de sintetizá-las e aplicá-las ao fazer compras na loja do seu bairro. É muito pouco provável que um aluno com problemas intelectuais graves seja capaz de sintetizar aprendizagens de 3 contextos diferentes e aplicá-las de um modo funcional numa outra situação. Estas dificuldades exigem que o ensino seja ministrado nos ambientes que exijam essa mesma síntese. Em outras palavras, muitas competências necessárias para fazer compras, como seja sociabilização, operações com dinheiro, leitura, linguagem, motricidade, segurança rodoviária e outras deverão ser ensinadas em situação real de fazer compras a sério.

Em resumo, tenha em mente alguém que pode aprender, mas menos que os restantes 99% dos seus colegas da mesma idade; que necessita de muito mais tempo e repetição para aprender e reaprender do que os outros; que esquece mais do que quase todos os outros se não praticar freqüentemente; que tem dificuldade em transferir aquilo que aprendeu num dado ambiente para outro; e que raramente consegue sintetizar as aprendizagens adquiridas em diferentes situações de modo a aplicá-las efetivamente numa nova situação. Por fim, faça a pergunta: "Quais são as características determinantes dum programa educativo que possibilitarão a este aluno ser tão produtivo, independente e eficiente quanto possível, numa vasta gama de ambientes integrados, no final do seu percurso escolar?"

Fonte: Malha Atlântica | Portugal
Texto adaptado para divulgação no site do Instituto Indianópolis.

Extrato traduzido e adaptado do artigo de Kathy Zanella Albright, Lou Brown, Pat VanDeventer e Jack Jorgensen (1987). O que os professores do ensino normal devem saber acerca dos alunos com problemas intelectuais graves. In L. Brown et al. Educational programs for students with severe intellectual disabilities, Vol. XVI. Madison, WI,: Madison Metropolitan Schools District.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

TÉCNICAS UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO DOS AUTISTAS



Daniele Centeno Lopes
Luiz Fernandes Pavelacki
RESUMO
Este artigo trata das técnicas utilizadas para educar os autistas, a metodologia usada para a
coleta de dados foi a pesquisa bibliográfica. Através da observação direta conclui-se que três
técnicas não são utilizadas: oração, história e passeio. Por outro lado as demais técnicas são
muito bem aplicadas pela professora. Os autistas são crianças que precisam de constante
auxílio, sua rotina diária deve ser sempre estruturada, pois qualquer mudança pode alterar seu
comportamento, durante as atividades não demonstram interesse, mas isso não quer dizer que
não tenham.
Palavras-chave: autistas; técnicas; auxílio; rotina; comportamento.
INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta as técnicas utilizadas na educação dos autistas. O
tema foi escolhido e delimitado através da pergunta de partida: Quais são as técnicas usadas
na educação dos autistas? A pergunta foi escolhida com o objetivo de investigar e entender o
trabalho dos professores que têm o papel de educar essas crianças portadoras de necessidades
especiais.
Para tratarmos do tema, foi feita exploração através de uma revisão da
literatura. Cada autor explorado trata o tema de uma forma diferente, mas todos voltados para
o aspecto educacional: Bautista comenta sobre o uso de drogas que em sua concepção deve
acompanhar o tratamento. Segundo o autor o autista enfrenta muita dificuldade na
aprendizagem e precisam de constante auxílio em sua vida. Szabo diz que a criança portadora
Acadêmica do Curso de Pedagogia – Supervisão Escolar da Universidade Luterana do Brasil –
Campus Guaíba
Professor da Disciplina de Metodologia Científica e Orientador deste trabalho – ULBRA/GUAÍBA
2
de autismo tem grande preocupação com seu ambiente educativo que deve ser sempre o
mesmo, sem sofrer modificações, assim deve ser também com o educador para que aconteça a
adaptação da criança com ambiente em geral. Segundo Baptista, o autista apresenta
dificuldades na fala e quase não se comunica com os demais. Laboyer trás em seu texto as
dificuldades motoras que estas crianças especiais apresentam, o autista faz movimentos
rítmicos desorganizados, fazendo repetidamente o mesmo ato, que chamamos de estereotipia,
uma de suas principais características.
O texto da APAE, apresenta as propostas educacionais, ou seja, como se deve
educar um aluno autista. Este texto foi o referencial teórico escolhido para tratar a pergunta de
partida, diferente dos demais referenciais teóricos pois mostra as técnicas usadas na educação
dos autistas e como usá-las.
O desenvolvimento deste artigo será dividido em três seções: Explicitação do
referencial teórico, Hipótese e conceitos e Análise das informações.
1 EXPLICITAÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Bereohff (1991), para educar uma criança autista, é preciso
levar em consideração a falta de interação com o grupo, comunicação precária, dificuldades
na fala e a mudança de comportamento que apresentam essas crianças.
Neste sentido a autora descreve que “é básico que a programação
psicopedagógica a ser traçada para estas crianças, esteja centrada em suas necessidades”
(BEREOHFF, 1991, s/pág).
A autora em questão diz que há várias técnicas de ensino para crianças com
autismo. Essas técnicas têm o objetivo de prevenir ou reduzir as deficiências primárias. Desta
forma:
3
Educar uma criança autista é uma experiência que leva o professor a rever e
questionar suas idéias sobre desenvolvimento, educação normalidade e competência
profissional. Torna-se um desafio descrever um impacto dos primeiros contatos entre
este professor e estas crianças tão desconhecidas e na maioria das vezes
imprevisíveis (BEREOHFF, 1991, s/pág).
Além destas afirmações, algumas técnicas com base na Pedagogia Waldof apud
kügelgen, 1960; Lanz (1979, são essenciais na educação dos autistas:
Sabendo que o autista não se adapta ao mundo externo, é preciso que na escola
ele tenha uma rotina estruturada, que faz com que ele situe-se no espaço e tempo. O professor
também deve fazer parte dessa rotina, compreendendo que a mesma não é uma restrição a sua
criatividade.
Ravière apud Bereohff (1984, s/pág), explica que “esta relação põe à prova,
mais do que nenhuma outra, os recursos e as habilidades do professor”.
A valorização dos elementos da natureza como sol, a chuva, árvores, estimula
o autista a ter um contato e a percepção de seu meio.
A abordagem vivencial é outro fator importante na educação destas crianças
tão especiais, pois às vezes o trabalho verbal não é o suficiente, onde o contato físico com o
autista é de grande necessidade.
Outro recurso que quando usado no momento adequado e seu estilo estiver de
acordo trará bons resultados, é a utilização da música, as preferências são sempre para as
infantis (ciranda – cirandinha). A canção deve estar sempre de acordo com momentos
específicos, tais como a chegada, hora do lanche, higiene, para que a criança possa relacionar
a música com a atividade em andamento.
Além das técnicas, a rotina diária é muito importante na educação do autista, a
qual não deve ser alterada, qualquer mudança pode refletir no comportamento da criança.
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A importância do ensino estruturado é ressaltado por Eric Schopler in
Gauderer, 1993, no método TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças
com Deficiências relacionadas à Comunicação), quando afirma:
É bom ter em mente, que normalmente as crianças à medida que vão se
desenvolvendo, vão aprendendo a estruturar seu ambiente, enquanto que os autistas e
com distúrbios difusos do desenvolvimento precisam de uma estrutura externa para
otimizar uma situação de aprendizagem (s/pág).
Estes cuidados permitirão um maior sentimento de pertinência e de
previsibilidade quanto ao espaço físico. A sala deve ter um tamanho que permita a
realização de atividades de mesa, individuais e em grupos, contando também com
alguns colchonetes e almofadas (SCHOPLER, 1993, s/pág).
Além disso o educador deve basear seu relacionamento com seu aluno em um
conhecimento o mais abrangente da síndrome do Autismo, das características da criança e de
técnicas atualizadas de ensino.
Entrada: este momento deve ser relatado para o aluno, que já passou,
trabalhando informalmente o aspecto temporal.
Oração: o educador estimulará o grupo a realizar junto com ele um momento
de agradecimentos, dando início aos trabalhos.
Deve ser valorizado cada momento de fala da criança, assim o professor fará
com que o aluno sinta liberdade de expressar-se não só na oração, mas em qualquer outra
situação.
História: é necessário que seja contada diariamente, aparecendo fatos reais ou
de fantasia situando o aluno dentro do contexto. O conto vai sendo desenhado no quadro com
giz colorido, expondo a realidade do aluno em casa, rotina escolar, apontando objetos e
pessoas que o rodeiam.
Tarefa: esta é dedicada às atividades dirigidas, sendo elas em mesa, individual
ou em grupos, de acordo com os objetivos traçados para cada criança.
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Objetivos são traçados a partir do PIE (Planejamento Individual de Ensino),
que para sua elaboração são seguidos os seguintes passos:
- a observação do autista em situações livres e dirigidas;
- a seleção dos objetivos orienta-se pela gradação das dificuldades dos
alunos;
- O PIE deve ser reformulado a cada ano, permitindo reavaliação dos
objetivos e conseqüentemente a evolução dos alunos.
Para que os objetivos sejam alcançados, Schopler (1993), ressalta que “merece
cuidado a preparação do ambiente por parte do educador, ou seja: material pedagógico
previamente separado, disposição de carteiras, etc.” (s/pág)
Higiene: esta atividade promove maior independência como lavar as mãos,
escovar os dentes, tomar banho, vestir-se, despir-se sozinhos. Estes são trabalhados em
momentos específicos dentro do contexto escolar.
Lanche: segundo Schopler (1993), esta é uma situação que prioriza somente a
alimentação, mas também permite que um tenha respeito pelo lanche do outro, bem como
compartilhá-lo em determinadas situações.
Na hora do lanche o aluno é estimulado a preparar a sua mesa para comer,
manusear objetos (copo, prato, talheres). Esta atividade proporciona o desenvolvimento de
hábitos alimentares dentro do contexto escolar.
Recreio: este momento é muito importante dentro da rotina escolar, pois é a
hora da integração com as outras crianças da escola portadoras de necessidades especiais ou
não. Neste instante de liberdade o autista deve ser supervisionado à distância, acompanhando
se há ou não um momento de integração com os demais.
Passeio: este é realizado fora da escola. Levando em conta que o autista não é
sociável, o passeio oportuniza-o a vivenciar situações sociais nas quais a comunidade
participa direta ou indiretamente. De um lado, o autista aprende a conviver com a sociedade e
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de outro a sociedade aprende a compreender este indivíduo portador de necessidades
especiais.
Recreação supervisionada: é característica dos autistas apresentar movimentos
esteriotipados com o corpo repetidamente, esta atividade busca ampliar o repertório motor,
através de brincadeiras lúdicas, com regras fáceis e materiais diversos. Procura-se nesta hora
proporcionar ao grupo momentos de interação, sociabilização e lazer.
Saída: a rotina encerra com a professora estimulando o aluno organizar seu
material e a sala de aula.
Considerando a rotina diária descrita é fundamental a pontualidade do aluno à
escola, permitindo que ele participe de todas as etapas sem fugir de sua rotina e diminuindo a
possibilidade de crises comportamentais durante o período escolar.
É fundamental o educador não fugir à esta rotina, pois é indispensável para a
educação do autista. Isto se faz necessário, conforme a afirmação de Weihs (1971), que
destaca:
Se desejamos compreender e ajudar uma criança autista, devemos por um
lado, perceber que somos parte deste ambiente no qual esta criança tem que viver e
crescer e, por outro lado, tentar ver seu comportamento, desempenho, habilidades e
incapacidades em relação ao que é sempre perfeito nela, a vivência de sua própria
personalidade (s/pág).
A partir do momento que reconhecermos nossas dificuldades, fraquezas, e
deficiências um novo caminho se abrirá e é neste caminho que o educador começa a aprender
que ser portador de necessidades especiais não impede ninguém de viver por mais limitante
que esta pareça ser.
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2 HIPÓTESE E CONCEITOS
Há várias técnicas utilizadas na educação de autistas: rotina estruturada
(recepção do aluno, entrada, oração, história, tarefa, higiene, lanche, recreio, passeio,
recreação supervisionada, saída), valorização dos elementos, abordagem vivencial e música.
Os autistas são crianças que mudam de comportamento quando alguma coisa é
modificada em sua rotina diária. Esta rotina tem que estar focada em suas necessidades.
A memória do autista é voltada para o visual, se faz necessário que o educador
em suas técnicas, valorize este lado, fazendo com que o aluno observe cores, tamanhos,
espessuras, animais, pessoas... Por outro lado a sala de aula deve ter pouca estimulação visual
para que a criança não desvie sua atenção da atividade em andamento.
O ambiente educacional deve ser calmo e agradável, para que os movimentos
estereotipados dos alunos não alterem.
Para testar a hipótese foi observado na APAE (Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais), se os professores de crianças portadoras de autismo estão utilizando essas
técnicas em seus planos de aula. O instrumento de coleta de dados foi a observação direta.
Através da observação direta pude perceber que a professora utiliza em sua
prática educacional as seguintes técnicas:
- música;
- tarefa dirigida (atendimento individual);
- momento livre (o aluno escolhe sua atividade);
- abordagem vivencial (contato físico);
- recreação supervisionada;
- Higiene;
- Lanche;
- Recreio livre;
- Observação (de objetos, gravura...);
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- A sala de aula é dividida em três partes: momento pessoal, momento
individual e momento livre;
- Todas as atividades são voltadas para o estímulo visual.
Foi observado que um aluno além de ser portador de autismo, é deficiente
visual. A educadora encontra dificuldades para educar este aluno, devido a falta de recursos
(materiais pedagógicos), assim ela utiliza as mesmas técnicas já citadas, porém estimula a
audição e o tato.
3 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
No período de 1º a 16 de junho, foi feita a observação direta, onde pude
perceber que o trabalho com os autistas é bem complexo devido a agitação deles.
A sala de aula é dividida em três partes:
- momento pessoal: esta é a parte onde cada aluno tem a sua estante de cores
diferentes (o aluno A tem a estante azul, o B tem a vermelha), neste local
encontram-se seus objetos pessoais como a escova dental, toalha, lanche,
material escolar. Cada aluno conhece sua cor e onde encontrar seus
utensílios.
- Momento individual: este é o espaço em que a professora trabalha
individualmente com cada aluno a tarefa dirigida, tentando suprir suas
necessidades. Enquanto a educadora atende uma criança, sua auxiliar cuida
dos demais com outra atividade, geralmente livre.
- Momento livre: neste local os alunos podem optar por uma atividade, ou
até mesmo ficar sem fazer nada.
Durante os dezesseis dias de observação algumas técnicas citadas na hipótese
não foram utilizadas, como a oração, história e o passeio.
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A recepção e a entrada era sempre calorosa, com diálogo, abraços e beijos. Os
alunos chegavam dispostos a ficarem, com exceção de um aluno que chorava e irritava-se
muito ao ver a mão sair.
A música (CD), nem sempre era uma boa opção, enquanto alguns alunos se
acalmavam, outros ficavam agitados, gritavam e seus movimentos estereotipados
aumentavam. A professora muitas vezes optava por cantar ao invés de colocar CD.
No momento da tarefa dirigida, as crianças ficavam concentradas no que a
professora falava. As atividades eram jogos de encaixe, alfabeto ilustrado, pinturas, formas
geométricas (blocos lógicos), tarefas onde os alunos pudessem diferenciar grosso e fino, liso e
áspero, grande e pequeno. Ao longo da semana as atividades repetiam-se para que pudessem
fixar o que foi trabalhado.
Durante o período livre os alunos optavam por não fazerem nada, ficavam
deitados nas almofadas.
A abordagem vivencial acontece deste o instante em que os alunos chegam na
escola até a hora da saída, pois são crianças extremamente dependentes e precisam de
constante auxílio.
A recreação supervisionada acontece duas vezes por semana, na atividade
física o que mais dificulta o trabalho é a estereotipia dos alunos, que são movimentos
característicos difíceis de serem controlados. No decorrer da recreação as crianças precisam
seguir algumas regras, o que os deixa revoltados aumentando os movimentos.
Quanto a higiene e o lanche, os alunos agem sozinhos, sabem o lugar de seus
objetos pessoais, fazem sua limpeza e alimentação independentes. Exceto dois alunos um que
é portador de deficiência visual e outro que tem cinco anos e não se locomove sozinho.
As crianças lancham no refeitório, todos têm uma alimentação saudável, alguns
levam o lanche, outros comem o que a escola oferece como pão, leite, bolacha, arroz, feijão.
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O recreio é livre com todas as outras crianças, também portadoras de
necessidades especiais. Este momento também é supervisionado, as auxiliares procuram
promover a integridade de todos, mas os autistas são pessoas que vivem no seu próprio
mundo e dificilmente integram-se com os demais.
A observação da natureza, dos objetos, das gravuras é constante. Os autistas
têm dificuldades na fala, por isso dificilmente se comunicam através do diálogo, o que a
professora pergunta, eles respondem através de gestos, mas conseguem diferenciar as cores,
objetos da sala, formas e algumas letras. Da turma de cinco alunos apenas um é alfabetizado.
A educadora é atenciosa e procura diversificar as atividades, a falta de
materiais pedagógicos às vezes dificulta o andamento do trabalho, além da diferença de idade
entre eles: cinco, seis, vinte e dois, vinte e oito e trinta anos. Todos são mentalmente crianças,
os alunos de cinco e seis anos têm personalidade de três anos, os demais têm a personalidade
de sete anos.
CONCLUSÃO
Ao término deste artigo, concluiu-se que o tema abordado e pesquisado através
da bibliografia e da observação direta confirma-se em partes, pois durante o período de
observação algumas técnicas nunca foram feitas pela professora a oração, história e o passeio,
enquanto as outras foram aplicadas diariamente com muita atenção, dedicação e paciência. A
divisão da sala de aula foi uma técnica não afirmada na hipótese, mas que tem grande
importância no trabalho educacional destas crianças tão especiais.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
APAE. Curso de Enfoque Multidisciplinar: sobre Deficiente Mental. Camaquã, S/A.
BAPTISTA, Cláudio Roberto. Autismo e Educação. Porto Alegre: Artmed, 2002.
BAUTISTA, Rafael. Necessidades Educativas Especiais. Portugal: Dina Livros, 1995.
11
LABOYER, Marion. Autismo Infantil. 2.ed. [s.l.]: Papirus, 1995.
SZABO, Cleuza. Autismo um Mundo Estranho. São Paulo: Edicon, 19992.

"AUTISTAS DO ÁLEM"



PSICOGRAFADO POR NELSON MORAES
PELO ESPÍRITO EDUARDO
ÍNDICE
Nota do Médium....................................9
Esclarecimentos...................................11
Os socorristas......................................15
Elza.......................................................29
A menina Eliza......................................42
Passado e Presente...............................56
O socorro de Raul................................70
A resistência de Raul............................75
Permissão para voltar...........................88
Resgatando dívidas...............................99
"Autistas do Além" NOTA DO MÉDIUM
“Este é um fato verídico ocorrido após a
desencarnação de um jovem recolhido em um
acidente na capital de São Paulo. Entretanto os
nomes e certas circunstâncias foram alterados, em
vista de se resguardar as pessoas envolvidas que
ainda permanecem encarnadas em nossos meios.
Estes acontecimentos foram ditados ao médium
pelo jovem Eduardo Ruiz Dellalio, também
desencarnado por acidente no dia 23 de junho de
1980.
Eduardo, depois de retornar à Pátria espiritual,
enviou várias mensagens através da mediunidade
de Francisco Cândido Xavier e, numa delas,
ressaltou os problemas que envolviam muitos
jovens recém-desencarnados.
Diz ele na referida mensagem:
“... Muita gente chora ainda, outros companheiros
se revelam insubmissos e revoltados; outros
parecem tocados por obsessões difíceis de passar.
Tamanha é a saudade com que se acomodam no
fundo do imenso lago das lágrimas, que não
encontram condições para escrever
construtivamente. Por isso, muitos irmãos estão
ainda no tanque do tempo, afogando as mágoas que
os fazem doentes e por enquanto incapazes do
equilíbrio para reconfortar alguém... ”
Plenamente integrado à vida espiritual, Eduardo
passou a dedicar seus préstimos a esses jovens. Não
como um benfeitor, diz ele, mas como um amigo
que já superou os primeiros obstáculos de uma
nova experiência.
O título, (Autistas do Além) foi sugerido pelos
acontecimentos aqui registrados, em que o
personagem em determinado momento assume um
comportamento idêntico ao dos Autistas
encarnados. Certamente este título atrairá
estudiosos do assunto, porém devemos esclarecer
que a obra em si não concentra em torno do
problema propriamente dito, mas enfoca os
sentimentos e as emoções que podem levar um
espírito à condição de Autista."
ESCLARECIMENTOS
“Nós, os jovens domiciliados no além, muitas vezes
em nossas comunicações com os nossos entes
queridos deixamos transparecer que a vida aqui
segue nas mesmas condições de quando
encarnados. É justo, porém, compreendermos que
os valores da Terra não se confundem com os do
espírito eterno e que as circunstâncias que nos
envolvem agora; obrigam-nos as transformações
profundas no que se refere às novas condições de
vida, onde somos o que pensamos e deixamos
transparecer visivelmente o que sentimos.
O equilíbrio das nossas emoções torna-se fator
imprescindível a ser alcançado. Temos visto muitos
companheiros enfrentarem graves dificuldades
oriundas do campo emocional descontrolado.
Muitos desses nossos irmãos, tomados pela
saudade angustiante agravada, pela insegurança de
que são acometidos, projetam-se às zonas de
sofrimento e, quando não, retornam ao reduto
doméstico e tentam desesperadamente retomar a
vida que lhes escapou. Portam-se à semelhança dos
Autistas da terra, recusam o mundo em que estão
vivendo concentrando-se num mundo que já não
conseguem alcançar. Ao sentirem-se frustrados
nesse anseio desesperado, imergem dentro de si
mesmo, isolando-se de tudo e de todos.
São os Autistas do Além.
Dedicados benfeitores da Estância de Amor, onde
estou domiciliado, empregam grandes esforços na
recuperação desses irmãos. Somos uma imensa
colônia de trabalho vinculada às instituições
terrenas que se dedicam às tarefas de assistência
aos espíritos desencarnados, promovendo
orientação e socorro através dos recursos da
mediunidade. A calma que tenho demonstrado em
minhas atitudes, desde que cheguei a esta colônia, é
o único atributo que me permitiu integrar uma
equipe de espíritos que atua nessa área.
Somos três companheiros que prestam auxílio no
tratamento de casos que geralmente envolvem
jovens recém-desencarnados e quase sempre por
acidente, o que facilita muitas vezes nossa tarefa,
pois nos identificamos com eles. Devo esclarecer
que somos uma equipe entre centenas de equipes
existentes em nossa colônia e que o fenômeno que
denominamos de Autistas do Além se verifica em
todas as faixas etárias mantidas pelos espíritos
desencarnados; portanto, encontramos envolvidos
nesse processo espíritos que desencarnam com
idades que variam da infância à idade avançada. À
semelhança de um espectador de fatos, vou os
acontecimentos que envolvem o tratamento de um
jovem; e que, no desenrolar das ocorrências, trarão
à baila preciosos esclarecimentos que por certo irão
colaborar não só com aqueles que abraçaram a
tarefa de auxílio no campo do espírito humano, mas
principalmente aos pais que sofreram a separação
provisória no decorrer da vida passageira,
devolvendo seus filhos queridos aos planos da vida
eterna. "
OS SOCORRISTAS
"Rompia a Aurora Clara de Deus, quando fomos
chamados pelo coordenador das tarefas socorristas.
Atravessamos os jardins que circundam o edifício
central de nossa Estância. As flores, naquela
manhã, irradiavam do colorido pujante vibrações
que se traduziam em nossos espíritos como hinos
de esperança, incentivando-nos ao trabalho
edificante. Venâncio, sorridente como sempre, nos
recebeu à porta do seu gabinete, abraçando-nos
carinhosamente.
_ Então, meus jovens! Estão dispostos a uma nova
empreitada de amor?
_ Onde conseguiremos tal amor? _ respondeu
Afrânio, o orientador da nossa equipe,
demonstrando o seu constante bom humor.
Venâncio sorriu e afirmou:
(1) Nota do médium – Termo usado por Eduardo
em uma das suas mensagens através de Chico
Xavier.
_ O amor é uma força que todos possuímos! Apenas
não temos aprendido a aplicá-la ao encontro de
suas finalidades superiores. Encontramo-la
desequilibrada nas paixões, perturbada no ciúme,
transfigurada no ódio, controvertida no egoísmo e,
finalmente, sublimada nos anjos. Somente quando
aprendermos a direcioná-la, equilibrada em
grandes ou pequenas parcelas na direção do bem
geral, é que começará a agir em nosso próprio
benefício. O Evangelho, no seu contexto, apresentanos
o amor como à solução final para todos os
problemas da humanidade. É o amor emanante de
Deus que sustenta todos os reinos de vida, desde o
micro até o macrocosmo; quando todos nos
ajustarmos a esse amor, contribuindo com o
equilíbrio geral da criação, nosso coração estará
pulsando em sintonia com o coração do universo.
Afrânio olhou para nós, demonstrando admiração
pelas palavras de Venâncio. Este, registrando a
nossa emoção, continuou:
_ Enquanto ensaiamos esse amor, apliquemos os
recursos de que dispomos no momento da direção
daqueles que recorrem aos benefícios das nossas
tarefas. Temos em mãos um relatório de
informações sobre um jovem, vítima de um
acidente que promoveu seu retorno às nossas
esferas.
Apesar de toda assistência recebida m nosso plano,
envolveu-se em profunda depressão, agravada pelo
sentimento de saudades de sua mãe que acabou
arrastando-o ao ambiente doméstico, onde se
encontra há mais de um ano, sob o domínio da
obsessão. Parentes há muito desencarnados
tentaram, por todos os meios possíveis, traze-lo à
realidade à qual rejeita, fechando-se no mundo que
imprevidentemente criou para si.
_Quando devemos iniciar o nosso trabalho? –
perguntou Afrânio.
_ Imediatamente. Já comuniquei ao encarregado do
seu pavilhão, que manterá contato permanente com
vocês para atender aos recursos que solicitarem no
decorrer do tratamento. No lar em questão, contarão
com a colaboração de Artur, um espírito amigo da
família.
Após entregar-nos o relatório e fazer as devidas
recomendações, Venâncio proferiu uma prece,
solicitando o amparo das esferas superiores durante
o tempo que permaneceríamos na crosta.
De posse das informações contidas no relatório,
nos dirigimos ao local. O lugar, já nos era
conhecido tanto eu quanto Afrânio e Décio
havíamos residido em São Paulo. A casa
demonstrava pertencer a uma família de classe
média, paredes externas revestidas, pequeno jardim
e uma garagem gradeada até o alto da laje.
Entramos...
Na sala, uma menina de uns oito anos, deitada no
tapete, coloria algumas figuras desenhadas no
papel.
_ Esta é Eliza – falou Artur, saindo de um dos
aposentos -, a irmãzinha de Raul. Sejam bemvindos!
Esperava ansioso, à chegada de vocês!
_ Eu sou Afrânio, estes são Décio e Eduardo.
Depois de trocarmos algumas palavras próprias de
momento como este Artur, nos convidou:
_ Venham, vou mostrar-lhes a casa.
Acompanhados pelo nosso anfitrião, fizemos um
reconhecimento em todos os cômodos. Na cozinha,
encontramos Júlia, que segundo Artur; era uma
dedicada senhora que servia à família há muitos
anos. Quando nos aproximamos, pareceu registrar
nossa presença. O casal estava ausente, Renato, pai
de Raul, estava trabalhando, Elizete, a mãe, havia
ido ao cemitério como fazia todas as semanas. Por
último, nos conduziu ao quarto que pertencera a
Raul. As paredes estavam forradas de pôsteres
próprios da juventude.
As roupas, os sapatos e tênis estavam dispostos
pelo quarto como se ainda fosse habitado pelo
jovem, o aparelho de som, as fitas denunciavam seu
gosto pela música moderna.
Artur, demonstrando tristeza, falou:
_ Elizete passa horas neste ambiente envolvida em
recordações que lhe afetam profundamente a
saúde. Esse comportamento favorece e acentua a
sua ligação com o espírito de Raul, que se compraz
nessa situação. Sei dos compromissos assumidos
por Raul antes de reencarnar nesta última ramagem
pela Terra. O tempo em que ele se demora enfermo
ameaça-lhe com sérios comprometimentos para o
futuro. Foi por esse motivo que recorri a Venâncio.
Solicitando ajuda à Estância de Amor.
Notando a preocupação de Artur, coloquei meu
braço sobre seus ombros e informei-lhe:
_ Não se preocupe! Temos em nosso favor, além do
apoio total da nossa colônia, os préstimos
abalizados de Afrânio que, apesar da condição de
jovem com que se apresenta, é um espírito de
muitas experiências, conhecedor profundo das
emoções humanas, e tem nos surpreendido com
resultados dos mais expressivos, no campo, da
psiquiatria, o que justifica a total confiança que
Venâncio deposita em seus préstimos. Basta que
nos empreste sua colaboração para que alcancemos
um final feliz sob o amparo de Jesus.
Afrânio meneou a cabeça, retrucando:
_ Não leve em conta a bondade com que Eduardo
faz referências a mim, vamos nos acomodar, pois
você tem muitas informações que devemos ouvir.
Conte-nos sobre o relacionamento de Raul com sua
mãe.
_Desde o nascimento do rapaz, Elizete demonstrou
por ele um zelo excessivo. Tratava-o como se fosse
um bebê frágil, resguardava-o das repreensões do
pai, encobrindo suas faltas. Ele, por sua vez, se
submetia à mãe num regime de dependência que
perdurou até os dezenove anos, quando aconteceu o
acidente. Esse relacionamento gerou em Raul uma
timidez que o impedia de realizar grandes
investidas no mundo lá fora, passava a maior parte
do seu tempo confinado no quarto estudando ou
ouvindo música. Uns sete meses antes do
acontecido; conheceu uma jovem por quem se
apaixonou. Quase todos os dias, ia ao seu encontro.
Pensou muitas vezes em falar a respeito com a mãe,
mas temia uma represália por parte dela, então
ocultou seu romance levando consigo o segredo.
_ E Renato? – perguntou Afrânio.
_Renato apegou-se mais à menina. Embora amasse
Raul, o relacionamento entre os dois era bastante
difícil.
_ O processo obsessivo ocorreu após quanto tempo
de desencarne? – perguntei.
_ Logo depois do acidente, Raul foi recolhido pelos
braços do bisavô paterno e conduzido a um
hospital próximo a crosta. Ali recebeu tratamento
adequado até quando recobrou a consciência.
Informado pelo bisavô da nova situação, sofreu
algumas crises que foram superadas com muito
esforço dos benfeitores da instituição benemérita
que o acolheu. Segundo me informou Elpídio, o
bisavô, tudo marchava para a normalidade. Raul,
embora muito abatido em suas forças, parecia
aceitar bem a nova condição em que se encontrava,
até que começou a registrar o desespero de Elizete,
cujos gritos angustiados chegavam até ele como um
bombardeio nas suas forças psíquicas, abalando
profundamente sua organização espiritual. Então,
um dia, projetou-se alucinado ao encontro dos
apelos da mãe, vindo instalar-se junto dela onde
permanece até hoje. Isso ocorreu quatro meses após
o desenlace, período que Elizete passou totalmente
fora de si, acometida de crises constantes de
desespero, vindo acalmar-se aparentemente após
Raul ligar-se a ela.
_ Muito bem, Artur – disse Afrânio -, tais informes
nos são de extremada valia, aguardemos a chegada
de nossa irmã, a fim de colhermos as impressões do
caso. Esperamos corresponder às suas expectativas
no que se refere ao bem-estar dos seus tutelados.
Eram pouco mais de onze horas quando Elizete
retornou ao lar. Estávamos diante de uma jovem
senhora que, apesar do semblante perturbado,
demonstrava traços de uma beleza singular. Raul
agarrava-se ao seu perispírito à semelhança de uma
sombra vinculada aos seus movimentos. Sua mente
demonstrava intensa atividade, irradiando sobre o
córtex cerebral da mãe, estabelecendo uma estranha
simbiose. Décio tentou faze-se sentir por ele, mas,
não conseguiu o que caracterizou o estado
profundo de obsessão em que se projetou. As
palavras nada significavam, nem interferiam no seu
comportamento. Aproveitando um momento em
que Elizete se acomodara no sofá para descansar da
caminhada ao cemitério, Afrânio aproximou-se,
sondando-lhe o íntimo.
_ Raulzinho, meu filho, você não pode deixar-me,
eu preciso de você, Deus nos traiu, jamais vou
aceitar nossa separação, Deus não foi justo.
_ Eu estou aqui, mamãe – respondeu Raul -,
ninguém vai nos separar, ninguém, vou ficar com
você para sempre...
Após ouvir esse diálogo mental, Afrânio voltou-se
para nós, concluindo:
_ Estamos diante de um caso bastante delicado. No
campo da fé dispomos de quase nenhum recurso,
visto que nossa irmã não demonstra nenhuma
tendência religiosa. Você, Artur, já tentou
aproxima-la de alguém que pudesse ajudar com os
recursos da Doutrina Espírita? – perguntou
Afrânio.
_ Sim, mas foi em vão, ela rejeitou os préstimos de
uma senhora amiga da família que tentou conduzila
a um, núcleo de trabalhadores próximo daqui.
_ Precisamos realizar uma incursão ao pretérito do
nosso irmão – disse Afrânio -, a fim de
amealharmos recursos que possam auxiliar como
atrativo para resgatá-lo do mundo construído nas
vibrações doentias de sua mãe. Vou retornar à
Estância de Amor. Enquanto isso, eu pediria a você,
Artur, conduzir Décio e Eduardo até a residência da
jovem que Raul dedicou sua atenção enquanto
encarnado, há fim de colherem informações que
nos possam ser úteis.
Conduzidos por Artur, chegamos a uma residência
de características humildes, porém bastante ampla,
era u casarão antigo.
_ Aqui mora Elza, uma menina de dezoito anos,
filha mais velha do casal, trabalha não muito longe
daqui, chega sempre por volta das dezoito horas e
trinta minutos. Raul quase todos os dias a
apanhava no trabalho, acompanhando-a até o
portão da casa onde ficavam horas conversando. Ele
tinha por ela extremado carinho.
Entramos na casa...
Fomos recebidos por irmã Clara, um espírito
dedicado àquela família, que demonstrou conhecer
Artur.
_ Como vai, meu querido irmão? O que o trouxe
desta vez a nossa casa?
_ Trago comigo dois companheiros que vão
colaborar no tratamento do Raulzinho.
_ Pobre menino, vejo que não consegue libertar-se
dos laços com que sua mãe o envolve. Ponham-se à
vontade e digam-me como posso ajuda-loa.
_ Irmã Clara – disse Artur -, precisamos de algumas
informações sobre Elza. Estes são: Décio e Eduardo,
eles vão fazer-lhe algumas perguntas.
_ Pois não – atendeu solícita a senhora.
_ Precisamos saber como Elza reagiu quando se
inteirou do acidente – perguntei.
_ Sofreu muito, pobrezinha, ficou abatida durante
meses, mas com o auxílio de todos tem conseguido
superar, embora a tenha. Surpreendido em alguns
momentos relembrando seus dias felizes com ele.
_ Ela tem alguma fé religiosa?
_ Ela andou lendo alguns livros espíritas e, algumas
vezes, tem ido assistir palestras na Federação,
principalmente depois que Raul retornou ao nosso
plano.
_ Muito obrigado, irmã Clara – agradeci. _ Foram de
muita valia tais informações. Se nos permitir,
retornaremos logo mais à noite acompanhados de
Afrânio, o nosso orientador.
_ Serão bem-vindos!
Despedimos-nos e retornamos para a residência,
que desde cedo, se tornara nosso ambiente de
trabalho. Renato, um senhor bastante simpático,
retornou ao lar por volta das dezenove horas.
Entrou, beijou a fronte da esposa, abriu os braços a
Eliza que correndo atirou-se em seu colo,
envolvendo-o carinhosamente com seus beijos de
criança. Dirigiram-se para a cozinha onde Júlia
terminava os preparativos para o jantar. Sentaramse
à mesa depois da higiene habitual. Nós nos
colocamos na posição de espectadores,
acompanhando o colóquio familiar.
_ Elizete, querida – falou Renato demonstrando sua
preocupação com a saúde dela -, você precisa parar
de tomar os calmantes.
_ De jeito nenhum, você sabe que eu não posso
ficar sem eles, mesmo tomando-os tenho
dificuldades para dormir – respondeu um tanto
contrariada.
_ Você precisa se distrair, visitar as amigas, seus
pais. Por que não pega Eliza e vai dar um passeio
até a casa de dona Florinda que sempre se mostrou
muito amiga?
_ Pra que? Para ficar ouvindo suas “baboseiras”
tentando me convencer do espiritismo?
_ Este seu comportamento não vai mudar em nada o
que já aconteceu, e nem tão pouco trará Raul de
volta. Você precisa dedicar maior atenção a Eliza,
principalmente agora que começou a estudar; seu
carinho torna-se imprescindível, neste momento em
que ela começa a descortinar um mundo novo no
vaivém da escola.
Elizete olhou demoradamente para a menina, seus
olhos umedeceram, e por alguns momentos
percebemos afrouxarem-se os laços que a uniam
Raul. Este imediatamente reagiu, imprimindo
maior influência sobre ela que logo se transfigurou.
_ Não admito que fale assim comigo, nunca faltei
com minhas obrigações com você e tampouco com
ela.
Dizendo isso, levantou-se e foi para o quarto que
pertencera a Raul e ali se entregou ao pranto
durante horas. Enquanto aguardávamos o retorno
de Afrânio, íamos-nos inteirando do clima que
predominava naquele lar. Percebia-se claramente a
tristeza de Renato, que não conseguia manter um
diálogo com a esposa. Renato levantou-se tomando
Elisa nos braços e foi para a sala.
_ Papai, por que a mamãe fica sempre brava com
você?
_ A mamãe está doente, precisamos ter paciência
com ela.
_ Liga a televisão, papai.
Renato ligou o aparelho, controlando o volume do
som mínimo e começou a folhear um jornal. Décio
aproveitou aquele momento para sondar-lhe o
íntimo, visivelmente amargurado. Percebeu que
naquele coração ainda palpitava uma esperança.
Apesar de tudo, acreditava que um dia tudo
voltaria à normalidade.
_ É, Eduardo – disse Décio -, graças a Deus
dispomos de alguns recursos positivos, tanto com a
Elizete que demonstrou amar Elisa, quanto com
Renato que ainda não se entregou. Isso poderá
contribuir bastante com os nossos esforços.
Afrânio chegou, era quase meia-noite. Artur
acompanhou Eliza que se dirigiu aos seus
aposentos, tomada pelo sono, voltando a reunir-se
conosco. Renato retirou Elizete do quarto que
pertencera a Raul, conduzindo-a para o dormitório
do casal onde se recolheram. Júlia retirou-se para o
quarto fora da casa onde dormia durante os dias da
semana, deixando a residência apenas aos sábados,
retornando às segundas-feiras.
Acomodamo-nos na sala, ouvindo Afrânio que nos
prestou esclarecimentos relativos à situação em que
se encontrava o nosso enfermo.
_ Raul é um dos milhares de vítimas do amor
possessivo que gera um estado de dependência e
que leva a um embotamento das forças positivas do
espírito, tornando-o passivo, a ponto de deixar-se
conduzir ao invés de se conduzir; renuncia á
vontade própria, submetendo-se a uma vontade
que o domina, a qual assimila por afinidade e na
qual se compraz. Dificilmente conseguiremos
arrebatá-lo da situação em que se encontra; se não
dispusermos de elementos bastante fortes que
possam intervir no campo emotivo, visto que pelos
caminhos da razão jamais o alcançaremos. Portanto,
vamos concentrar nossos primeiros esforços na
jovem, cujos laços de amor ainda se mantêm vivos.
Décio e Artur deverão permanecer aqui, enquanto
você me conduz à residência da jovem.
Saímos...
Enquanto nos dirigíamos ao encontro de Elza,
informei Afrânio de tudo o que havíamos
observado, narrando em detalhes ás informações
que obtivemos a respeito do relacionamento do
casal e das reações de Elza ante o acidente de Raul,
senti que tais informações deixaram o acidente de
Raul. Senti que tais informações deixaram Afrânio
um tanto otimista.
Chegamos ao lar de Elza...
Apresentei Afrânio à irmã Clara que nos recebeu
afetuosamente. Informada das intenções de
Afrânio, conduziu-nos ao quarto da jovem. Ela
dormia junto ao corpo, estendida em uma cama de
casal. Afrânio colocou-se diante do leito, fechou os
olhos com a cabeça voltada para o alto,
permanecendo nessa posição por alguns momentos.
Eu o observava, não podia imaginar o que
pretendia. Estava absorvido pela curiosidade
quando ele começou a transfigurar-se, irradiando
uma luz que envolveu todo o ambiente,
transmitindo uma suave sensação de paz e
segurança. Elza começou a agitar-se e, aos poucos,
foi se desdobrando na direção dele.
_ Perdoe-me, querida irmã – falou Afrânio-, por
interferir na sua liberdade, perturbando seu justo
descanso. Venho solicitar em nome de Jesus seus
préstimos para arrebatar do sofrimento alguém que
você ama muito. Trata-se de Raul.
Elza sentou-se na beira da cama e começou a chorar
copiosamente. Afrânio, nesse momento, vibrou
sobre a sua cabeça, emitindo raios azulados que
vertiam de suas mãos penetrando o cérebro da
jovem. Passados alguns instantes, e a levantou-se
completamente transfigurada numa mulher
aparentando uns trinta anos, envolvida em roupas
antigas, afigurando-nos uma fina dama, dando-nos
a impressão de um passado distante retornando ao
presente. Voltando-se para Afrânio, disse-lhe:
_ É muito,o que me pede, tenho desperdiçado
muitos anos da minha existência disputando o
amor desse fraco com aquela megera.
_ Procure se lembrar. Antes de reencarnar prometeu
ajuda-lo, talvez este seja o momento oportuno de
começar. Irmã querida... Deus ama seus filhos e os
quer unidos pelos laços do amor legítimo. Muitas
vezes os caminhos para a união definitivamente
estão contidos nos processos das separações
provisórias confie um tanto mais na misericórdia
divina e ajude-nos no presente para que alcance a
felicidade no futuro.
Diante das sábias e afetuosas palavras de Afrânio, a
dama começou a chorar, transfigurando-se
novamente na jovem Elza que, ainda em prantos, se
prontificou ajudar.
Irmã Clara, envolvendo-a carinhosamente,
conduziu-a para o corpo físico. Despedimo-nos
retornando à residência de Raul. Enquanto
retornávamos, pedi explicações a Afrânio sobre a
transfiguração de Elza e como fora possível tal
fenômeno. Atendendo a minha curiosidade de
aprendiz, esclareceu-me atenciosamente.
_ Fui obrigado a estimular as lembranças de Elza, a
fim de aquilatar suas ligações com Raul. No
momento em que tais lembranças afloraram e
foram se tornando nítidas em sua mente, por força
destas, seu envoltório fluídico foi se ajustando às
recordações que predominaram naquele momento.
Por alguns instantes a personalidade de Elza foi
esquecida, o que facilitou a transfiguração que
presenciamos.
Na residência de Elizete, todos dormiam. Quando
chegamos, fomos ao quarto do casal onde Décio
mantinha vigilância, observando o comportamento
dos enfermos.
_ Alguma alteração?- perguntou Afrânio.
_ Nenhuma importante, apenas por duas vezes
Elizete ameaçou sair do corpo, mas desistiu.
_ Continue atento.
Caminhamos aos aposentos de Eliza. Seu corpinho
descansava na cama, mas seu espírito brincava com
Artur que demonstrava extremado carinho por ela.
Artur fazia-a rir descontraída quando saímos.
Alcançando a rua nos dirigimos a uma praça
próxima dali. Sentamo-nos sob uma enorme
paineira, cujos galhos se estendiam para o alto
como tentando agarrar as estrelas que naquela noite
se mostravam exuberantes. A lua escondia-se no
horizonte, mas seus raios prateados ainda tinham
forças para atravessar a folhagem da paineira,
iluminando as gotas de orvalho que umedeciam a
grama. Lembrei-me de minha mãe cujos olhos, nos
momentos das maiores alegrias, brilhavam como as
gotas de orvalho banhadas pelo luar. Senti meu
coração pulsando com o coração do universo.
Lembrei das palavras de Venâncio quando se
referiu ao amor. Como seria bom se todos,
tivéssemos essa força sob controle, quantos dramas
se evitariam neste planeta maravilhosos. Admirava
a sabedoria de Venâncio. Afrânio, parecendo
registrar meus pensamentos, asseverou:
_ Venâncio é um espírito que tenho aprendido a
venerar! Seu amor é tão grande quanto a sua
sabedoria. Seus préstimos na Estância de Amor
representam milhares de espíritos resgatados do
sofrimento. Quase sempre vítimas de um amor
desequilibrado, o que para ele se constitui numa
especialidade. Venho acompanhando-o há muito
tempo, amealhando valiosos recursos em termos de
conhecimentos, que para mim, um espírito
apaixonado pela ciência que estuda a mente e seus
problemas, representa um grande acréscimo.
Pretendo no futuro retornar as experiências da
matéria para dar continuidade ao meu trabalho no
campo da Psiquiatria, no qual venho militando a
muito, quase sempre experimentando fracassos,
principalmente no que se refere à fé, aliás, a prova
mais difícil para aqueles que ingressam no mundo
das ciências. Espero que, com experiências que
tenho adquirido nestas investidas de trabalho junto
à crosta, consiga acumular subsídios suficientes
para sustentar-me em minha próxima incursão na
matéria. Em minha ultima jornada terrestre, logo
após conquistar o titulo acadêmico, retornei para cá
atendendo uma programação ulteriormente
preparada, da qual este nosso trabalho faz parte.
À medida que Afrânio falava, sentia por ele uma
sensação mista de afeição e respeito. Parecia-me
que guardava no peito um mundo de recordações,
como alguém que já vivera muitas encarnações.
Estava envolvido nesses pensamentos quando me
pegou pelo braço:
_ Vamos, já amanhece, hoje você deve dedicar
algum tempo junto a Elza; precisamos que esteja
recolhida cedo ao leito, pois pretendo conduzi-la a
presença de Raul esta noite.
Parti rumo à residência da jovem. Eram pouco mais
de seis horas da manhã, irmã Clara recebeu-me
sorridente. Quando Elza saiu, acompanhei-a em
direção ao local de trabalho. Era um amplo
escritório, fazia parte da administração de uma
fabrica. Ela trabalhava de datilografa juntamente
com uma colega que tinha mais ou menos a idade
dela. Conversavam muito, em determinado
momento interessei-me pela conversa e aproximeime
para ouvir.
_ Esta noite tive um sonho esquisito – falou para a
colega.
_ Conta, eu adoro ouvir sobre sonhos.
_ Eu não sei explicar, foi tão estranho! Eu
conversava com um homem sobre o Raul.
Chorava muito, de repente, me vi num outro lugar,
vestida com umas roupas estranhas. Uma mulher
segurava Raul, eu lutava para tirá-lo dos seus
braços. Depois acordei, mas não estava acordada,
não sei se você entende. Então vi aquele homem de
novo, é como se eu estivesse sonhando dentro do
sonho, foi uma coisa realmente estranha.
_ Você não sonhava sempre com a mãe do Raul
tirando-o de você?
_ Só que desta vez não era ela, mas sim uma mulher
estranha, nós estávamos vestidas com roupas
antigas.
_ Não será trauma pelo medo que você Raul tinham
dela?
_ Talvez, mas agora que ele já morreu não se
justifica.
_ Sonho que a agente não consegue compreender é
melhor esquecer - arrematou a colega.
_ Você tem razão.
Permaneci ali com ela até cumprir o horário da
jornada de trabalho daquele dia.
No final de tarde tive que intervir provocando-lhe
sonolência, pois a colega insistia para que fossem
juntas; visitar uma amiga, o que poderia atrapalhar
nossos planos. Elza desculpou-se e nós retornamos
à sua residência, onde aguardei junto dela a
chegada de Afrânio.
As horas avançavam. Já passava da meia-noite.
Quando Afrânio chegou, eu estava na sala com a
irmã Clara que imediatamente nos conduziu ao
quarto de Elza. A jovem dormia profundamente.
Tocada pelas vibrações de Afrânio, despertou
vagarosamente, desdobrando-se em nossa direção.
Parecia lembrar-se do compromisso assumido na
noite anterior, pois assimilou as orientações
naturalmente. Juntos, alcançamos à residência de
Raul.
Artur nos aguardava ansioso. Afrânio deixou-a sob
os seus cuidados, enquanto nos dirigimos ao quarto
do casal. Décio mantinha-se vigilante! Nos,
aproximamos. Renato e Elizete dormiam juntos aos
seus respectivos corpos sob a influência dele, que
os havia magnetizado. O ambiente estava
preparado. Obedecendo à solicitação de Afrânio fui
buscar Elza que, ao entrar no quarto, parou
estanque temendo a presença de Elizete. Afrânio
acalmou-a conduzindo-a até Raul. Elza debruçou-se
à beira da cama sussurrando-lhe algumas palavras,
enquanto acariciava seus cabelos.
_ Raul, sou eu, estou com muitas saudades. Você
esqueceu de mim? Ouça-me, preciso muito de você.
Não me procurou mais, então eu vim te ver! Sabe
que te amo muito, quero que venha comigo, vamos?
À medida que Elza falava, Raul estremecia
parecendo ouvir seus apelos. Os laços fluídicos
afrouxaram-se, Elizete agitou-se ameaçando
acordar. Fizemos uma pausa de alguns instantes e
depois Elza voltou a interpelá-lo.
_ Vamos, Raul, venha comigo, eu quero você ao
meu lado.
Elizete novamente agitou-se, tentando se libertar
do corpo físico. Então Afrânio suspendeu os
trabalhos daquela noite, reconduzi Elza ao lar,
atendendo à recomendação dele. Mais tarde, nos
reunimos novamente na residência de Raul. Eu
estava ansioso por ouvir as impressões de Afrânio
sobre aquele primeiro encontro. Não foi preciso
perguntar-lhe. Acomodados na sala, ele começou a
falar:
_ Aguardemos os acontecimentos durante o dia de
amanhã, a fim de aquilatarmos os efeitos deste
primeiro contato de Elza com o nosso irmão
enfermo. Retornarei à Estância de Amor onde
estudarei o caso sob as apreciações de Venâncio;
vocês mantenham-se alertas a qualquer
eventualidade que possa alterar nossos planos.
Depois que Afrânio partiu, Artur mostrou-se
preocupado com o estado de saúde de Elizete, pois
temia que isso viesse comprometer todo o nosso
trabalho. Esperamos o amanhecer, Décio e eu
alcançamos a rua em direção à casa de Elza.
Devíamos colher ás impressões que ficaram
gravadas na lembrança da jovem.
Quando chegamos, Elza tomava o café matinal e ao
mesmo tempo conversava com sua mãe.
_ Tive outro sonho com Raul esta noite, mas não
consigo me lembrar direito. Pareceu-me que estava
doente, eu chamava por ele, que não me dava
atenção.
_ Você precisa esquecê-lo, procure se distrair,
arrume um namorado – aconselhou a mãe.
_ Esquece-lo será muito difícil. Embora as
lembranças que ainda alimento não me façam
sofrer, estão ainda muito vivas dentro de mim. É
como se fosse um compromisso que deixamos para
um outro dia, mas que ainda não terminou, é essa a
sensação que eu sinto.
_ Vê, Eduardo – disse Décio -. Por que Afrânio
concentra as suas esperanças em Elza?
Provavelmente sua ligação com Raul deve atender a
propósitos que ora desconhecemos, mas que no
desenrolar dos acontecimentos virão à baila com
certeza. Vamos retornar à residência de Renato,
aguardando ali o retorno de Afrânio. ”
A MENINA ELIZA
“Para atingirmos o objetivo que pretendo,
precisamos contar com os seus préstimos, querido
irmão Artur.
_ Meus préstimos? – perguntou Artur admirado.
_ Sim, querido irmão, vou pedir-lhe algo que me
desagrada muito, mas torna-se imprescindível.
_ Do que se trata? – perguntou Artur um tanto
preocupado.
_ Sei dos laços que unem você à menina Eliza, mas
é preciso que se altere seu estado de saúde.
Precisamos que seja acometido de convulsões
periódicas seguidas de um estado febril. Artur
levantou-se cabisbaixo, dirigindo-se para o quarto
de Eliza. Eu o acompanhei. Debruçou-se sobre ela
que já dormia, beijando-lhe a fronte,
permanecendo ao seu lado ate o amanhecer.
Afrânio passou-se nos suas recomendações:
_ Vocês deverão concentrar seus esforços
colaborando para que alcancemos em Elizete um
estado emocional bastante voltado para a filha, que
em breve deverá apresentar os primeiros sintomas
de enfermidade. Usem se necessário for; os recursos
sensitivos de Júlia que poderá ser de muita valia
aos nossos propósitos. Décio deverá colaborar para
que Renato, nesses próximos dias, se veja
absorvido pelo trabalho na empresa a que se
vincula.
Depois de mais algumas observações, Afrânio
retornou à nossa colônia. Passaram-se dois dias.
Elizete cada hora mostrava-se mais tensa; a idéia de
suicídio tomava corpo em sua mente, ate que
naquela manhã, após Renato sair para o trabalho;
começaram os primeiros efeitos das providências
tomadas por Afrânio. Júlia, percebendo que Eliza
não saíra do quarto como sempre fazia logo após a
saída de Renato, foi ter com ela que dormia
profundamente. Tocando-a, correu ao aposento de
Elizete, despertando-a.
_ Patroa, a Eliza está com muita febre!
_ Como você sabe!
_ Eu a toquei, ela está com o rosto avermelhado e
bastante quente.
_ Eu vou me levantar, isso não é nada, a menina
sempre foi corada."
Júlia retornou ao lado da menina, acordando-a.
_ Você está bem? – perguntou-lhe.
_ Estou cansada, dói á cabeça.
_ Fique calma, a mamãe já vem.
Naquele momento, Elizete entrou no quarto.
_ Vamos ver se a menina está com manha para não
ir à escola.
Mas o termômetro logo acusou a febre alta.
_ Júlia, ligue para o Renato. Ele precisa levá-la ao
médico.
Décio aproximou-se de Júlia, imprimindo-lhe uma
sugestão.
_ Por que a senhora não a leva? O Sr.Renato vai
demorar muito a chegar até aqui.
_ Nada disso, eu não tenho condições, sinto-me
fraca, ligue para o Renato – insistiu Elizete,
contrariada.
Júlia foi para a sala na direção do telefone
acompanhada por Décio que procurava senhorearlhe
os pensamentos. Pegou o telefone. Quando ia
discar, deteve-se por alguns instantes e,
influenciada por Décio, recolocou o telefone no
gancho, retornando ao quarto de Eliza.
_ O Sr.Renato não se encontra na firma; disseram
que saiu a serviço e que só retorna à tarde.
_ O que vamos fazer? – falou Elizete, demonstrando
certa tensão.
_ A patroa precisa levá-la ao médico, vamos, eu
acompanho a senhora.
_ Calma! Deixe, eu raciocinar. Talvez seja apenas
uma infecção na garganta, vou chamar o
farmacêutico.
Então Décio atuou sobre a menina que começou a
chorar.
_ Mamãe, estou com medo, a minha cabeça dói
muito, estou tonta – disse Eliza, que parecia entrar
em convulsão.
_ Está vendo, patroa, precisa levá-la ao médico!
Elizete prostrou-se pensativa, olhando a filhinha, e
Artur aproveitou para envolvê-la nas mais puras
vibrações de carinho, sensibilizando-a. De repente,
a mãe levantou-se.
_ Prepare-se, Júlia, nós vamos levá-la ao Dr.Mário.
Em poucos instantes saíram em direção ao
consultório do médico. No consultório, Dr.Mário
examinou demoradamente Eliza e, não encontrando
nada que justificasse um diagnóstico, requisitou
vários exames. Enquanto eu acompanhava o
atendimento da menina, Décio deslocara-se até a
firma onde Renato trabalhava, a fim de influenciar
na distribuição dos encargos, procurando
sobrecarrega-lo de serviço naqueles dias. Depois de
algumas horas, estávamos todos novamente na
residência de Elizete. Ao chegar, após acomodar
Eliza no leito, ela dirigiu-se ao armário onde
guardava os remédios. Quando se preparava para
tomar os calmantes, Júlia, induzida por Artur,
interferiu convencendo-a de que precisava manterse
lúcida devido à enfermidade da filha. Renato
retornou pelo final da tarde, mostrou-se bastante
preocupado com o estado de saúde de Eliza.
_ Justo agora que me incumbiram de uma auditoria
que não poderá sofrer interrupções. Você precisa se
empenhar em cumprir todas as recomendações do
Dr.Mário. Providencie amanhã todos os exames que
ele pediu – falou Renato em tom severo com a
esposa.
Com isso criou-se o clima que desejávamos.
Renato, absorvido pelo trabalho, obrigava Elizete,
por força das circunstâncias, a várias incursões ao
médico e aos laboratórios à cata de exames. Após
vinte dias, ela estava totalmente absorvida pelo
problema. O médico, ante as convulsões de Eliza e
diante dos exames todos negativos, recomendou a
internação da menina. Elizete desesperou-se, levoua
a outro médico que lhe pediu os mesmos exames,
exigindo que fossem feitos em outro laboratório.
Ela atendeu e foi mais uma semana de corre-corre
sem resultados, pois os novos exames confirmavam
os outros feitos anteriormente, todos negativos.
Desta vez o médico recomendou um neurologista, o
que acabou provocando em Elizete um choque,
levando-a a um abatimento profundo. A essa altura
dos acontecimentos, Raul já encontrava
dificuldades para se manter em sintonia com ela,
sentia-se quase desalojado das suas vibrações de
saudades e apego.
Instalara-se nos pensamentos de Elizete um
sentimento de culpa. Percebendo o abatimento da
patroa, Júlia aproximou-se, interpelando-a:
_ Posso ajudar em alguma coisa? Quer que eu
prepare um lanche? A senhora precisa se alimentar.
_ Júlia, estou com muito medo, os médicos estão
escondendo alguma coisa de mim. Eliza continua
com as convulsões, a febre foi dominada, por que
ela continua sofrendo ataques?
_ Vamos confiar em Deus, ele sabe o que faz, os
médicos vão acabar descobrindo o que ela tem, e
logo vai ficar boa. "
Que ela tem, e logo vai ficar boa.
_ Deus não existe, já não bastava perder Raul agora
vejo que estou perdendo minha filhinha.
_ Deus existe, patroa, reze para Ele nos ajudar.
_ Gostaria de ter certeza de que Ele existe, mas não
posso crer em um Deus que separa as pessoas que
se amam, e faz sofrer uma inocente como a minha
filhinha. Elizete começou a chorar copiosamente.
_ Não chore, vamos rezar juntas para que Deus nos
inspire uma solução.
_ Você acredita mesmo que Deus existe?
Júlia, inspirada por Artur, começou a falar-lhe:
_ Deus existe! E é um Pai generoso! Que nos ama
muito nós é que desesperamos por falta de
confiança na Sua misericórdia.
_ Se Ele existe, está me castigando, eu me revoltei
com a morte de Raul. Agora Ele quer tirar-me
também Eliza. Ajude-me, Júlia, eu sou culpada, eu
a abandonei desde que Raul partiu tenho vivido
somente das suas lembranças, abandonei Renato, o
lar, ajude-me pelo amor de Deus.
_ Calma, patroa, Deus não vai tirar sua filhinha, eu
pouco posso ajudá-la, mas se a senhora permite vou
chamar dona Florinda, ela é tão boa e poderá
ajudar.
_ Então vá, peça para ela vir até aqui.
Júlia, saiu, retornando depois de algum tempo,
acompanhada de dona Florinda, uma senhora
bastante simpática. Fazia-se acompanhar do
espírito de um médico que se aproximou dizendose
chamar Armando. Narramos a ele os
acontecimentos no que se prontificou ajudar. Logo
em seguida, entramos todos no quarto onde Elizete
se encontrava.
_ Obrigada, por ter vindo, estou desesperada, faz
quase um mês que Eliza adoeceu e os médicos não
descobrem o mal que se abateu sobre ela. Estou
com muito medo, perdi Raulzinho e agora vejo que
vou perder também a minha filhinha.
_ Calma, você não vai perdê-la, Deus é Pai e vai
ajudá-la; confie na misericórdia divina e você verá
em pouco tempo Eliza brincando novamente pela
casa.
_ A senhora acredita mesmo que isso seja possível?
_ Acredito! E você também deve acreditar, vamos
orar juntas para que Jesus nos ajude.
Dona Florinda começou uma prece profundamente
inspirada pelo Dr.Armando, estendendo suas mãos
sobre Elizete. Esta acompanhou cada palavra
tomada pelo pranto. Naquele momento Raul
desprendeu-se dela projetando-se para o quarto
que lhe pertencera. Após ser beneficiada pelo
passe, Elizete conduziu dona Florinda ao quarto de
Eliza. Ali, acobertada pelo Dr. Armando, atuou
sobre a menina durante alguns minutos.
Depois disso, reuniram-se na sala onde
conversaram durante algum tempo; dona Florinda,
inspirada por Artur, acendia a fé no coração de
Elizete, ainda sensibilizada pelos efeitos da prece e
do passe. Despediu-se, prometendo retornar no dia
seguinte. Dr. Armando permaneceu ainda por
algum tempo cuidando de Eliza. Elizete,
reconfortada, acomodou-se ao lado da filhinha,
olhando-a com ternura, acabando por adormecer ao
seu lado. Afrânio retornou ao anoitecer. Informado
dos acontecimentos, mostrou-se bastante otimista e,
juntos, fomos ao quarto onde Raul se alojara. Ao
entrarmos tivemos uma surpresa, ele estava sentado
num dos cantos do aposento, movimentando-se à
semelhança de um pêndulo.
Tentamos nos comunicar com ele, mas foi em vão.
Décio brincou durante alguns minutos tentando
atrair sua atenção e não conseguiu. Observando
atentamente Raul, Afrânio fez algumas
considerações.
_ Desalojado do mundo que o sustentava, recusa-se
a assumir a realidade, imergindo no seu próprio
mundo."
_ O que o obrigou a retirar-se de junto da sua
mãe?_ perguntei.
_ As forças que o sustentavam resumiam-se nas
lembranças vivas que Elizete cultivava, as quais se
enfraqueceram diante da intensa preocupação que a
envolveu em torno de Eliza. No momento em que
dona Florinda, portadora de um forte magnetismo,
atuou sobre eles, os laços enfraquecidos que ainda
o mantinham preso a ela se romperam por
completo, deslocando-o quase que
instantaneamente.
Depois de mais algumas considerações de Afrânio
sobre o caso, fomos para a sala. Artur, mostrando-se
apreensivo, perguntou-lhe:
_ Creio que, diante dos acontecimentos desta tarde,
Eliza esteja liberada desse processo, não é mesmo,
Afrânio?
_ Certamente que sim, compreendo sua justa
preocupação, não só está liberada; como temos
pressa em vê-la totalmente recuperada. Apenas
desejamos que a cura seja atribuída aos préstimos
de dona Florinda, a fim de que seja instalada a fé
de Elizete cuja confiança em seu trabalho nos será
potencial de recursos excelentes.
Artur mostrou-se satisfeito, reassumindo alegria
que durante aqueles dias havia sido empanada pela
preocupação em torno da menina. Afrânio, depois
de fazer algumas recomendações ao Décio,
pedindo-lhe que permanecesse ao lado de Raul,
chamou-me e nos dirigimos àquela praça que se
tornara local de nossas meditações. Sob a paineira
contemplei a noite clara denunciando a lua cheia;
alguns namorados sentados nos bancos do jardim
começavam a se retirar, pois passava das onze
horas. Permanecemos em silêncio, eu meditava
sobre o problema de Raul, o drama daquele pai,
daquela mãe. Onde estariam as origens de tanta
amargura e sofrimento? Provavelmente Afrânio as
conhecia, pois se conduzia com segurança,
determinando providências e recursos. Em dado
momento, rompi o silêncio, arriscando uma
pergunta.
_ Quais são as possibilidades de trazermos Raul
novamente à razão?
_ Considerando os recursos de que dispomos em
nosso plano, são muitas as possibilidades. O pouco
que conheci na Terra a respeito do Autismo, ao
qual vim familiarizar-me somente aqui em nosso
plano, sei que poucos são os sucessos alcançados
entre os encarnados.
_ Qual a razão desse insucesso?
_ O Autismo é um estado de alma, é uma posição
mental em que se coloca o espírito encarnado ou
desencarnado. Não se trata de uma deficiência
orgânica, isso tem sido demonstrado nos testes e
exames feitos pelos estudiosos do assunto, não se
iguala a um excepcional comum, cuja encarnação
está sujeita às limitações de um cérebro lesado ou
deficiente. Geralmente o Autista encarnado
apresenta-se numa organização física que
corresponde à normalidade dos reflexos e sentidos,
apenas pela posição mental em que se encontra
rejeita usar tais recursos. O insucesso que
experimentam os colegas encarnados deve-se à falta
do conhecimento das causas que levam um espírito
a assumir tal atitude. Enquanto a mente acadêmica
não se voltar seriamente às pesquisas no campo do
espírito eterno, a fim de remontar às causas
legítimas que envolvem a mente humana em
problemas diversos, incluindo-se o do Autismo,
dificilmente encontrará soluções adequadas. Em
nosso plano, porém, o quadro de soluções se altera
profundamente, pois dispomos do conhecimento
da causa. Basta reconstituir um clima emocional ao
qual o paciente se identifica, oferecendo-lhe uma
compensação à altura dos valores em que se viu
lesado, para que se sinta novamente atraído ao
mundo do qual se ausentou mergulhando em si
mesmo. Geralmente o Autista é um espírito fraco
de vontade que se viu lesado nos sentimentos;
julgando-se impotente para reaver ou reconquistar
tais valores, retrai-se para dentro de si mesmo,
abdicando da razão para sustentar-se do emotivo
que, embora sem manifestações exteriores,
continua ativo, guardando uma sensação de gozo
ou sofrimento. Por isso mesmo, torna-se difícil
alcança-lo pelos caminhos da razão, somente
através do emocional poderemos auxiliá-lo,
resgatando-o dessa situação.
_ Quais os recursos emocionais que pretende usar
no caso de Raul? – perguntei.
_ Vamos recorrer novamente aos préstimos de Elza.
_ Acredita que ela guarda consigo valores
eqüitativos aos que Raul se viu despojado no
momento que desencarnou e agora, quando se viu
obrigado a deslocar-se das vibrações da mãe, em
cujo amor doentio se refugiava?
_ Raul, através dos tempos, vem se dividindo entre
o amor das duas, demonstrando uma carência
afetiva insaciável. Elizete oferece-lhe o amor
possessivo e dominador, no qual se compras; Elza,
o amor terno e passivo que lhe dá prazer, mas ao
mesmo tempo gera um estado de insegurança que
atormenta.
_ Por que a insegurança?
_ O amor de Elza representa para ele
responsabilidades que jamais cogitou em assumir,
levando-o a refugiar-se em Elizete, um espírito
forte e dominador, ao qual se habituou a depender
e confiar cegamente.
_ Então é um espírito fraco e omisso?
_ Exatamente, por isso mesmo assumiu a postura
com que se nos apresenta, omitindo-se do mundo
exterior, pois o único mundo que lhe oferecia
segurança foi destruído, quando Elizete, se
desligou dele, atraída por uma preocupação maior
do que a sua ausência”.
PASSADO E PRESENTE
"_ Quando pretende trazer Elza à sua casa presença?
– perguntei.
_ Provavelmente amanhã, por isso, a partir do
amanhecer que se aproxima, você deverá
empenhar-se em acompanhá-la, preparando-a para
uma nova investida.
Após essa recomendação, despedimo-nos,
aproveitei o resto da madrugada para visitar meus
familiares encarnados. Ali abracei os entes
queridos do coração, atenuando a saudade que
experimentava periodicamente. Naquele dia,
permaneci ao lado de Elza o tempo todo. Por volta
das dezoito horas, quando se preparava para deixar
o escritório, chegou um jovem procurando pelo seu
chefe; ela o encaminhou até a mesa dele,
retornando à sua escrivaninha. Guardava seus
utensílios, quando os dois se aproximaram dela.
_ Elza, este é Sérgio, filho do nosso gerente de
vendas, ele precisa de um requerimento, você não
se importa em prepará-lo?
_ Tudo bem! _ respondeu sentando-se novamente.
O jovem acomodou-se sentado à sua frente e
começou a ditar o tal documento. Observando os
dois, notei que a presença do jovem alterava o
psíquico de Elza, sua aura acentuou-se numa
fulguração alaranjada com nuances avermelhadas.
Ele a deixava perturbada, errou várias vezes na
preparação do requerimento. Eram dezoito e
quarenta quando terminou. Ele, muito gentil,
agradeceu dizendo:
_ Muito obrigado, sinto tê-la retardado até agora, o
máximo que posso fazer é me oferecer para levá-la
para casa.
_ Não é necessário, eu moro perto daqui.
_ Eu insisto, se você me permitir, será um prazer.
_ Você é quem sabe – concordou.
Então saíram; eu os acompanhei acomodando-me
no banco traseiro do carro. No caminho, os dois se
corresponderam na troca de galanteios, acontecera o
que chamamos de amor à primeira vista. Quando
pararam o carro na porta da casa de Elza,
compreendi que a única atitude que me cabia era
descer, pois dali para frente continuaria aquele
“blábláblá” que todos conhecemos.
Retornei à casa de Elizete onde juntamente com
Décio e Artur aguardamos a chegada de Afrânio. O
ambiente naquele lar sofrera sensível
transformação, Eliza estava quase recuperada
gozando do carinho da mãe que lhe faltara durante
mais de um ano e meio. Salvo a condição de Raul,
poderíamos afirmar que tudo havia voltado à
normalidade. Estávamos fazendo uma súplica
através da prece, pedindo em favor de todos
envolvidos naquele drama, quando Afrânio
chegou. Inteirado dos acontecimentos ocorridos
durante o dia naquele lar, pus-me a narrar o
acontecido com Elza. Após contar-lhe em detalhes,
perguntei-lhe:
_ Esse envolvimento dela com Sérgio não vai
prejudicar nossos planos?
_ Muito pelo contrário. Cumpre-se em Sérgio parte
importante de um plano que no desenrolar dos
acontecimentos vocês compreenderão. Devemos
entender que, além das nossas atividades em favor
dos nossos irmãos, a providência divina está agindo
constantemente em favor deles e de todos, para que
se cumpram os desígnios de Deus. Em momento
nenhum das nossas vidas estamos entregues ao
acaso. Se analisarmos todas as circunstâncias que
nos envolvem durante cada dia de nossas vidas,
mesmo, as mais desagradáveis; saberemos
reconhecer, a mão generosa de Deus agindo em
nosso favor.
Afrânio, quando falava, transmitia-nos muita
segurança, suas convicções estavam amparadas pela
dedicação e pela fé que possuía. As horas
avançavam quando me recomendou que fosse
buscar Elza.
Ao chegar à residência da moça, irmã Clara me
recebeu, conduzindo-me ao seu quarto. Ela dormia
ao lado do corpo, no momento em que me
aproximei despertou, não me reconheceu. Irmã
Clara imediatamente esclareceu sobre a minha
presença e em poucos segundos estávamos
descontraídos. Conquistada a sua confiança, nos
deslocamos em direção a Raul. Afrânio nos
aguardava na sala, aproximou-se dela, abraçando-a
carinhosamente.
_ Deus te recompensará pela boa vontade em nos
ajudar junto a esta família que neste momento
precisa mais do que nunca de mãos amigas que se
estendam oferecendo auxílio e compreensão. Raul,
afastado agora da influência da mãe, experimenta
profunda sensação de insegurança,
imprevidentemente projetou-se dentro de si
mesmo, rejeitando o mundo exterior, construindo o
seu próprio mundo. Tira-lo agora desse mundo
torna-se"
Tarefa quase impossível, no entanto poderemos
oferecer-lhe um outro que lhe devolva a segurança
que perdeu. Você poderá ser esse mundo. Pedimos
que o envolva em vibrações de carinho para que
através do seu amor possamos resgatá-lo.
Elza não titubeou em aceitar; parecia ansiosa para
revê-lo. Entramos no quarto. Amparada por
Afrânio, aproximou-se, sentando-se ao seu lado, ali
permanecendo até quase o amanhecer, acariciandoo
e envolvendo-o em suas vibrações amorosas.
Aquela cena repetiu-se durante vinte três noites
seguidas. Elza deslocava-se para ali
espontaneamente sempre no mesmo horário. Foi na
noite seguinte em que se completava a vigésima
quarta investida de Elza que Afrânio registrou
intensa atividade mental em Raul. Envolvido
naquele clima ameno que Elza lhe proporcionava,
buscava através do pensamento recordações que
marcam forte o seu relacionamento com ela,
acabando por avançar em um passado distante.
Afrânio, colocando a mão sobre ele, estimulou tais
lembranças, as quais; passou a registrar. A cena em
que se detinha Raul era nítida em sua mente. Um
jovem acompanhado de uma jovem viajava sobre
um veículo semelhante a uma carruagem, puxado
por dois animais em disparada; pelo lado de fora,
um outro jovem, agarrado ao veículo, tentava
embarcar. Em determinado momento, o jovem
embarcado, armado de um pedaço de pau, desferiu
um violento golpe na cabeça do rapaz, que caiu sob
as rodas do veículo, morrendo instantaneamente.
No momento em que essas recordações se tornavam
mais fortes em sua mente, Raul agarrou a mão de
Elza, segurando-a com força. Foi à primeira reação
que registramos no comportamento dele durante
todas aquelas noites. Elza retornou ao corpo e nós
ficamos ali por algum tempo, avaliando os
acontecimentos. Quando Afrânio nos narrou as
lembranças que havia registrado, pudemos
compreender que se tratava de Raul e Elza em um
pretérito distante cujo crime praticado por ele
justificava a morte por acidente a que se submeteu
nesta encarnação. Afrânio ainda nos esclareceu:
_ O rapaz vitimado por Raul na cena que
registramos é Sérgio, o jovem que vai desposar
Elza.
Após esta revelação, Afrânio não nos deu espaço
para perguntas; despediu-se retornando para a
Estância de Amor. Eu e Décio permanecemos
cumprindo nossa vigilância naquele lar. Muitas
noites se seguiram, nossos esforços pareciam
perder-se no tempo.
Completávamos o terceiro mês de nossas atividades
em torno daquela família. Raul mostrava-se
inacessível aos apelos de Elza, que demonstrava, a
cada encontro, maior dedicação e carinho. Até que,
em uma das noites que se seguiram, Afrânio
percebeu certa agitação, em Raul; mostrava-se
nervoso, acelerando a sua movimentação como
pêndulo. Elza chegara naquele momento. Com a
sua presença pareceu acalmar-se, pegou em sua
mão segurando-a com firmeza, então ela começou a
cantar uma canção que marcara um momento de
muita emoção quando namoravam. Raul não
resistiu, aos poucos, voltou-se para ela; olhou bem
fundo nos seus olhos que naquele momento
brilhavam de emoção, abraçou-a e começou a
chorar. Elza afagou-o carinhosamente, envolvendoo
em seus braços, li ficaram durante horas sob o
nosso olhar de contentamento. Afrânio os envolveu
em suas vibrações e os conduziu para a casa de
Elza. Ela se acomodou no corpo físico adormecendo
profundamente. Raul, imantado a ela, deitou-se ao
seu lado no que Afrânio aproveitou para
magnetizá-lo, aplicando-lhe a sonoterapia. Após
entregá-los à vigilância da irmã Clara, retornamos
ao lar de Renato. Artur nos aguardava ansioso; não
conseguia conter a alegria e, num momento de
muita emoção, elevou uma prece a Deus,
agradecendo o nosso esforço. Afrânio, abraçando-o,
afirmou:
_ Artur, dedicado amigo, nada nos deve, senão a
Jesus que nos tem sustentado ao longo do nosso
trabalho e que, com certeza, continuará nos
amparando, até que alcancemos à normalidade
desejada, tão necessária aos nossos irmãos
envolvidos nesse drama.
Naquele clima de fraternidade, percebi que a
sensação de cansaço que eu experimentara
momentos antes desaparecera. Afrânio e Décio
retornaram para nossa colônia, eu fiquei com Artur
para observar os acontecimentos daquele dia que já
começava a clarear. Júlia, como sempre, foi a
primeira a levantar-se. Preparava o café da manhã,
quando Renato e Elizete surgiram na cozinha,
comentando com alegria o restabelecimento da
saúde de Eliza. Sentaram-se à mesa, Júlia abriu o
diálogo.
_ Graças a Deus tudo parece ter voltado ao normal
besta casa. Eliza está forte e brincando novamente.
_ Devemos agradecer a Deus e a dona Florinda que
foi tão amiga, cuidando todo esse tempo de Eliza –
falou Elizete.
_ Sabe, patroa, existem certos males que vêm para
curar outros maiores – falou Júlia, inspirada por
Artur.
_ Concordo com você – afirmou Renato.
Nisso entrou Eliza, procurando o colo de Elizete.
_ Como está a minha filhinha?
_ Estou bem, mamãe, tenho fome, quero café.
Renato sorriu, deixando transparecer sua
felicidade, sentiu naquele momento que a esposa
querida estava de volta à realidade, foram quase
dois anos de angústias e sofrimentos. Levantou-se,
abraçou a esposa e a filhinha beijando-as
carinhosamente, e despediu-se indo para o
trabalho. Elizete, conduzida à fé pela dedicação de
dona Florinda, abandonou os calmantes, o que lhe
restituiu a beleza física que lhe era própria. Renato,
inspirado por Artur, convenceu-a de que a casa
precisava de uma nova pintura e que o quarto que
pertencera a Raul teria que se transformar em seu
escritório, pois estava sobrecarregado de serviço e
pretendia trabalhar à noite. Nosso trabalho naquele
lar parecia findo. Quando Afrânio e Décio
retornaram à noite, despedimo-nos de Artur que
ficou nos acenando emocionado. Fizemos uma
parada sob aquela paineira na praça próxima dali.
Afrânio sentia-se feliz com os resultados
alcançados até aquele momento.
_ Quanto tempo ainda deverá permanecer nosso
irmão submetido à sonoterapia? – perguntou Décio.
_ Em breve o despertaremos; preocupa-me a sua
reação, não se sabe qual será! ao retornar à
consciência. Esperamos que associe, em primeiro
plano no campo emotivo, à figura de Elza, caso
contrário, prevalecendo à atração pela mãe, teremos
sérios problemas. Por medida de segurança, vamos
conduzi-lo a um núcleo de colaboradores
encarnados cuja reunião se realizará amanhã, como
acontece; todas as semanas! Já entrei, em contato
com Felipe, o coordenador naquela instituição;
estará nos esperando com os recursos necessários.
Décio, você deverá providenciar para que Elza
esteja recolhida no leito às vinte e uma horas. Use
dos recursos de que dispõe no campo do
magnetismo, acometendo-a de sonolência
acentuada desde o final da tarde, pois poderemos
necessitar da sua presença em determinado
momento. Os irmãos socorristas que servem
naquele reduto de trabalho irão buscá-lo por volta
das vinte e uma horas, quando deveremos star
presentes ali para acompanhá-los.
Depois destas orientações eu e Décio nos
descontraímos, brincando com as folhas caídas da
paineira, chutando-as como se fossem bolas;
lembrei-me quando jogava futebol de salão e meu
pai era o meu maior torcedor. Em determinado
momento, fomos surpreendidos por uma turma de
jovens desencarnados que, de pronto, entraram na
nossa brincadeira; eram quase todos nossos
conhecidos, muitas vezes fomos juntos a Uberaba
recepcionar nossos familiares. Estávamos todos
envolvidos pela euforia própria a acontecimentos
como aquele, quando fomos advertidos por Afrânio
de que poderíamos desequilibrar nosso padrão
vibratório e que, estando na crosta; corríamos o
risco de atrair espíritos inclinados à desordem, o
que nos causaria problemas indesejáveis. Após
atendermos à advertência de Afrânio sentamo-nos,
conversando durante horas. Carlos, um dos jovens
ali presentes, informou-nos que eles vieram
participar, de uma reunião ocorrida naquela noite
em uma instituição próxima dali. Comentamos
sobre a dificuldade que enfrentamos até
conseguirmos pacificar os corações maternos que
deixamos pulsando na Terra. Muitos daqueles
jovens estavam ainda empenhados em consolar os
entes queridos, que se mostravam ainda arredios
aos apelos da consciência com relação à vida eterna.
Indagado quanto ao problema, Afrânio se
prontificou a opinar, emprestando seus
conhecimentos.
_ Tenho aprendido em minhas experiências, no que
se refere ao estudo da mente, que o consolo
excessivo se assemelha à lenha que sustenta o fogo
que a consome, quanto mais lenha, mais fogo. Para
muitas mães, as vossas mensagens representam;
além do consolo que ofereceram um vigoroso
estímulo à fé, conduzindo-as encontro de um
conhecimento maior. Entretanto, para muitas
serviram apenas para evitar um mal maior nos
momentos mais angustiantes, tornando-se
posteriormente fortes vínculos, os quais tentam
manter desesperadamente, reclamando dos filhos
uma constante comunicação. Esquecem-se de que
os filhos, ora desvinculados dos processos da vida
na matéria, foram chamados a outro plano de
responsabilidades, nas quais raramente se incluem
contatos permanentes com os círculos familiares,
aos quais já não se submetem, embora cultivem os
laços de amor que os caracterizaram. Muitas dessas
mãezinhas queridas, mantendo o campo emotivo
em desequilíbrio, às vezes sob o disfarce da
compreensão, peregrinam pelos centros espíritas à
cata de mensagens.
Alguns médiuns, envolvidos pelo emocional que as
acompanha, assimilam seus anseios e, em meio ao
psiquismo predominante no momento geram
mensagens de um suposto consolo, contribuindo
imprevidentemente para alimentar tal obsessão.
Muitos dos jovens desencarnados, conscientes
dessa realidade, ausentaram-se das comunicações,
empregando seus esforços em conduzi-las aos
núcleos de estudos e de trabalho, procurando
integrá-las às atividades assistenciais. Só o
conhecimento exerce o verdadeiro consolo às dores
da alma, os demais artífices são paliativos,
sustentando o sofrimento enquanto predomina a
ignorância da causa. Conhecendo-se a causa, tornase
compreensível o motivo, atenuando-se os efeitos,
os quais se tornam suportáveis. Imaginemos se
fôssemos desconhecedores das ciências médicas e
dos recursos cirúrgicos, e em determinado
momento surpreendêssemos um filho querido
submetendo-se a uma cirurgia com as vísceras
expostas. Provavelmente entraríamos em pânico,
tentando arranca-lo das mãos que o beneficiam
naquele momento, garantindo-lhe a vida. Jesus,
conhecedor profundo das carências humanas,
quando se referiu ao Espírito de Verdade,
sabiamente o cognominou de O Consolador
prometido; hoje o reconhecimento manifesto na
Doutrina Espírita, exercendo a consolação perene
através do conhecimento que transmite à
humanidade.
Arrebatados pela orientação de Afrânio, nem nos
apercebemos que o amanhecer nos surpreendia.
Despedimo-nos rapidamente. Eu e Décio, junto
com Afrânio, retornamos à Estância de Amor,
deixando aqueles jovens nos acenando. Décio e eu
cumprimos nossas obrigações em nossa colônia,
visitando os companheiros que ainda não se
locomoviam, levando a eles o bom ânimo.
Aguardávamos ansiosos à chegada da noite;
quando deveríamos nos reunir novamente com
Afrânio, a fim de conduzirmos Raul ao grupo de
encarnados que iriam colaborar conosco para
desperta-lo. Décio retornara a Estanca conosco,
porque a irmã Clara se prontificara em cuidar para
que Elza estivesse recolhida ao leito no horário
previsto”.
O SOCORRO DE RAUL
“Eram exatamente vinte horas e quarenta minutos
quando chegamos à residência de Elza”.
Ambos dormiam profundamente, quando
chegaram os socorristas. Após a troca de
cumprimentos, acomodaram Raul em uma maca; e
todos, partimos em direção ao local onde se
efetuaria o socorro. Elza, ainda sob a influência da
irmã Clara, ficou dormindo junto ao corpo físico.
Chegamos...
Era uma pequena sala contígua a um salão.
Sentados à volta da mesa, dois homens e seis
senhoras. Em pé, um senhor conduzia os trabalhos,
prestando-se à tarefa de esclarecimento. Augusto
era seu nome. Em nosso plano, vários
companheiros se desdobravam em auxílio há
alguns irmãos que se mostravam enfermos e a
outros aparentemente desesperados. Em poucos
instantes o ambiente esvaziou-se, ficando apenas
Felipe, os socorristas e nós, além dos irmãos
encarnados. Aproximaram Raul de uma daquelas
senhoras. Felipe e Afrânio atuaram sobre ele,
Augusto, sobre a médium. Em poucos segundos, ela
mostrava-se envolvida por forte sonolência, como
registrando o estado em que ele se encontrava.
Raul, por sua vez, agitava-se na maca, ameaçando
despertar. Ainda sonolento; amparado por Felipe e
Afrânio, foi colocado em pé ao lado da médium.
Com o auxílio que recebia foi se ajustando à
organização mediúnica que pareceu revigorar-lhe o
raciocínio.
_ Onde estou? - perguntou por meio da psicofonia.
_ Calma, meu irmão, está tudo bem, você está entre
amigos - falou Augusto, inspirado por Felipe que
conduzia os trabalhos.
_ Quem são vocês? O que querem de mim?
_ Queremos ajudá-lo, procure acalma-se.
_ Onde está minha mãe? Que lugar é este?
Nisso, Afrânio fez um sinal ao Décio que partiu em
busca de Elza.
_ A sua mãe está bem, logo você a verá.
_ Eu quero minha mãe, soltem-me, eu preciso ir ao
encontro da minha mãe. Por que vocês estão me
segurando? Soltem-me.
Naquele momento, achava-se realmente preso laços
fluídicos que o envolviam, atendendo às
providências que Afrânio havia tomado. Continuou
agitando-se, querendo libertar-se.
_ Eu preciso voltar para casa, soltem-me, por favor,
soltem-me.
_ Meu irmão, você está entre amigos que querem
ajudá-lo, procure se controlar. Veja, tem alguém
aqui que o ama muito e quer conversar com você.
Elza já estava presente. Aproximou-se dele.
_ Sou eu, Elza. Está tudo bem, essas pessoas são
nossas amigas e querem nos ajudar, ouça os seus
conselhos, vão lhe fazer bem.
_ Eu preciso de ajuda, estou confuso, abrace-me,
por favor.
Elza envolveu-o em seus braços e, amparada por
Afrânio, ajudou-o a desembaraçar-se da médium,
entregando-o aos nossos cuidados.
Ajudados pelos irmãos socorristas, retornamos à
Estância de Amor, conduzindo Raul que chorava
muito. Elza retornou ao corpo, conduzida por
Felipe que a entregou à irmã Clara. Já em nossa
colônia, acomodamos Raul em uma cama no
pavilhão de enfermaria. Ficando com ele até quase
o amanhecer. Depois de tanto tempo sob a obsessão
em que se encontrava, mostrava-se bastante batido,
suas feições assemelhavam-se às de um náufrago
após muitos dias perdido no mar, seus olhos
avermelhados e sem brilho nos lembravam os
alcoólatras vencidos pela bebida. Acomodado no
leito, conversamos:
_ Como você está? – perguntei.
_ Sinto muito frio.
_ Essa sensação vai passar, procure relaxar.
_ Por que Elza não nos acompanhou?
_ Estava tarde, ela precisava recolher-se.
_ E minha mãe, por que não está aqui?
_ Ela virá, procure descansar.
_ O que aconteceu comigo?
_ Você sofreu um acidente, e esteve desacordado
um bom tempo.
_ Estou meio tonto e sua voz parece distante. O que
é aqui? Um hospital?
_ É mais que um hospital, é como se fosse a nossa
casa.
_ Sinto-me como se tivesse acordado de um sonho,
as lembranças fogem-me, não Consigo concatenar
os pensamentos.
_ Aos poucos você vai se recuperar, então lembrará
de tudo, agora, procure dormir.
Conversamos um pouco mais, até que ele
adormeceu. Afrânio nos convidou para irmos ao
edifício dedicado às orações em nossa colônia. Ali
oramos juntos, agradecemos a Deus pela força que
nos deu e por todos os recursos que a sua
misericórdia nos dispensou enquanto
trabalhávamos na crosta, estávamos felizes. Raul,
amparado, descansava do sofrimento, Elizete e
Renato desfrutavam da paz que esteve ausente
tanto tempo, Elza preparava-se para o seu
casamento com Sérgio que aconteceria nos
próximos dias, tudo caminhava para a normalidade
que, desejávamos”.
A RESISTÊNCIA DE RAUL
“Passaram-se duas semanas. Raul, sob a assistência
dos benfeitores de nossa colônia, recuperava-se
rapidamente. Não se recordava de nada do que
tinha acontecido; ainda dominado por certo torpor,
mostrava-se ansioso por saber de tudo. Seu bisavô
constantemente o visitava, porém Raul não o
reconhecia, pois o único contato que manteve com
ele fora no dia do acidente e nos dias que lhe
seguiram naquele hospital onde houvera sido
recolhido. Afrânio, eu e Décio, como fazíamos
todos os dias, fomos visitá-lo naquela tarde.
_ Como você está?
_ Eu me sinto estranho, tenho a impressão de que
há anos estou distante de casa, mas às vezes me
parece tê-la deixado há instantes.
A lembrança de casa, quando se aviva em minha
mente, principalmente quando lembro de minha
mãe, é como se eu fosse cair de uma altura imensa.
_ Você não se recorda de mim? – perguntou Elpídio,
seu bisavô.
_ Lembro-me vagamente.
_ Fui eu quem te socorreu no dia do acidente. Nesse
momento Afrânio vibrou intensamente sobre ele
estimulando-lhe as lembranças.
_ Eu morri... Eu morri!Vocês me enganaram, eu
morri, preciso ver minha mãe.
_ Calma, sua mãe está bem, já se passaram quase
dois anos do dia do acidente.
_ Agora eu me lembro, você é meu bisavô.
_ Sim, meu filho, tenha bastante calma, estamos
todos vivos com a graça de Deus. A morte não
existe, o importante agora é nos adaptarmos a esta
nova condição de vida, como vê, somos eternos.
Elpídio envolveu-o num abraço e continuou
conversando com ele, enquanto nos retiramos.
Transcorridos quase três meses da chegada de Raul
em nossa colônia, ele já se apresentava bastante
seguro de si. Transitava pelos pavilhões
relacionando-se com outros jovens, ouvindo de
cada um deles narrativas as mais interessantes;
muitos assemelhavam a ele nos problemas que
haviam sofrido o que, para ele, constituía-se em
relativo consolo.
Todas as vezes que encontrava Afrânio, insistia,
pedindo-lhe autorização para retornar à crosta para
ver Elza e sua mãe. Até que um dia Afrânio se
prontificou a conduzi-lo. Numa certa noite, fomos
reunidos para essa finalidade. Raul mostrava-se
eufórico, mal se continha na alegria que o
dominava. Partimos, fomos primeiro ao encontro de
sua mãe. Artur nos recebeu. Raul, informado sobre
ele e de sua missão de guardião da família,
abraçou-o demoradamente. Entramos no quarto de
seus pais, ele aproximou-se deles carinhosamente
beijando-o no rosto. Elizete desdobrou-se do corpo
correspondendo ao carinho do filho, estava tudo
sob controle, ela mantinha-se serena,
demonstrando equilíbrio nas suas emoções. Passou
pelo quarto de Eliza dedicando-lhe um carinho!E
dali; partimos ao encontro de Elza. No caminho,
Afrânio falou-lhe do seu casamento com Sérgio. Ao
receber a notícia, tivemos que nos deter por alguns
instantes, Raul chocou-se e negava-se a continuar ir
ao encontro da jovem.
_ Você deve prosseguir, torna-se importante
familiarizar-se com a realidade que não pode
transformar – falou-lhe Afrânio.
_ Eu não podia ter morrido, fiz tantos planos e
agora? O que faço?
_ Você saberá o que fazer, breve você vai
compreender, o importante agora é controlar-se
para que não perca o equilíbrio das emoções.
Convencido por Afrânio, resolveu prosseguir. Após
o casamento, Elza mudara-se para um apartamento
em um edifício próximo ao bairro onde morava.
Entramos, Raul adiantou-se, o jovem casal dormia
em um quarto contíguo à sala. Elza estava fora do
corpo físico. Ao vê-lo, assustou-se, tentou afastarse,
mas Raul a envolveu num abraço e os dois
permaneceram por alguns instantes envolvidos
carinhosamente. Afrânio fez-lhe um sinal, ele
atendeu e nós saímos. No caminho, em retorno à
nossa colônia, Raul manteve-se calado o tempo
todo. Chegamos lá nos agradeceu, recolhendo-se ao
dormitório, sem nos dirigir qualquer outra palavra.
No dia seguinte, fomos vê-lo como sempre
fazíamos. Estava na cama olhando para o chão.
Décio brincou:
_ O que é? Está contando os dedos do pé?
_ Estava pensando sobre ontem à noite, é uma
“barra” agüentar tudo isso.
_ Você vai “tirar de letra”, não “esquenta” não, logo
você se acostuma; a vida aqui é melhor que lá em
“baixo” – falou Décio, acompanhando a gíria que
Raul não conseguia evitar.
_ Mas eu preferia estar lá.
_ Isso não é bom “cara”, temos que aceitar a vida
conforme ela “pinta” pra gente.
_ Eu estava numa “boa”, minha mãe era “legal”, de
repente “to” aqui noutra bem diferente, deixando lá
minha “gata” nos braços de outro, sem poder fazer
nada, não é fácil.
_ Que, sabe você está destinado a voltar mais
rápido do que imagina.
_ Mas como?
_ Reencarnando novamente.
_ Até que era uma “boa”.
_ Mas o importante agora é “maneirar”, procure se
descontrair, visitando os “camaradinhas” dos
outros pavilhões até que Venâncio o ocupe em
alguma coisa.
_ Ta “legal”, vou “maneirar”.
Nisso chegaram vários jovens que souberam da
incursão dele na crosta, começaram a interrogá-lo
sobre a experiência por que passara diante dos
entes queridos. Nós nos retiramos. Á tarde!
Estávamos recolhidos ao nosso dormitório coletivo,
quando Afrânio apareceu para nos visitar.
Aproveitamos aquela oportunidade perguntandolhe
qual era sua opinião sobre as condições com
que Raul se apresentava. No que nos atendeu,
solícito:
_ Raul, apesar das aparências, guarda dentro de si
muita insegurança, precisamos cercá-lo de nossas
atenções, pois a qualquer momento pode nos
surpreender com alguma atitude inesperada.
_ Depois de tudo o que passou, arriscaria ainda agir
incoerente com a realidade? – perguntou Décio.
_ Não se sabe. Raul é um espírito ainda muito fraco,
e essa fraqueza o tem comprometido ante as
decisões mais importantes, optando sempre pela
omissão nos momentos mais graves de sua vida,
contraindo dívidas morais no curso de suas
encarnações. Elza tem sido vítima das suas
omissões, influenciado pelo espírito da mãe a tem
feito experimentar a solidão e o abandono, mas a
jovem, nessa trilha de sofrimentos, adquiriu
bastante compreensão. Antes de reencarnar, ela se
comprometeu a ajudá-lo, e seu amor por ele cresce a
cada nova experiência na Terra.
_ Como ela poderá ajudá-lo mais do que já ajudou
até aqui?
_ Elza e Sérgio preparam-se para recebê-lo como
filho querido. Raul, como tal, gozará da influência
dela desde pequenino, com certeza aprenderá com
ela a ser forte e responsável.
_ E Elizete?
_ A nossa irmã, atendendo às necessidades do seu
espírito comprometido com as leis de causa e efeito,
experimentará a solidão e o abandono; Renato em
breve retorna ao nosso plano. Eliza, quando atingir
a juventude deixará o lar, partindo par um país
distante, acompanhando o futuro marido.
_ Raul aceitará submeter-se à condição de filho de
Elza?
_ É a única perspectiva para ele, caso rejeite, o
ministério das reencarnações provavelmente
promoverá a reencarnação compulsória. Esperemos
que isso não venha a acontecer, vamos nos dedicar
a convencê-lo das vantagens que isso representa.
_ Hoje, Décio insinuou a possibilidade do seu
retorno à Terá, ele pareceu gostar da idéia.
_ Não se iluda, Eduardo, temos visto muitos
espíritos decididos recuarem no momento de
renascer, causando muitos transtornos aos
benfeitores que se dedicam à tarefa de auxiliá-los
nos processos da reencarnação.
_ Então está confiante de que ele venha a aceitar?
_ Apenas guardo algumas reservas, devido às
experiências que tenho vivido, onde a mente
humana tem me surpreendido a cada momento com
reações inesperadas. Aguardemos os próximos dias,
e peçamos a Deus que nos ajude, para que
colaboremos com a sua vontade que visa à
felicidade de todos nós. Afrânio despediu-se,
deixando-nos para o descanso daquela noite.
Passados alguns dias do nosso diálogo com
Afrânio, caminhávamos eu e Décio pelo parque que
circunda nossa colônia, quando encontramos Raul
sentado sob uma árvore. Décio, sempre com bom
humor, abordou-o, falando na gíria.
_ Como é, “cara”, “ta numa boa”?
_ “To” amargando aqui com as minhas dores.
_ Qual é “cara”, onde está doendo?
_ Aqui, bem no coração.
Falou batendo no peito.
_ Isso é mau, qual é o “grilo”?
_ Saudades, saudades...
_ De quem?
_ De todos e de tudo, da vida lá em baixo, da “gata”
principalmente. Preciso falar urgente com Afrânio,
estou com vontade de voltar à crosta para ver o
pessoal novamente, não estou agüentando a
saudade.
_ Afrânio irá encontrá-lo esta noite, eu acho que ele
tem novidades para você.
_ Espero que sejam boas.
_ Provavelmente serão, pois tudo o que é feito nesta
colônia é para o nosso bem.
Conversamos ainda por algum tempo e pudemos
perceber o descontentamento que apresentava ante
a situação em que se encontrava. Percorremos a
colônia, visitando quase todos os pavilhões, depois
nos recolhemos ao nosso dormitório onde Afrânio
nos aguardava.
_ Como está Raul? – perguntou-nos.
_ Bastante contrariado – respondi.
_ Eu previa tal comportamento, essa atitude talvez
venha a contribuir para que tudo se encaminhe em
direção aos objetivos a serem alcançados. O seu
retorno à crosta na condição de desencarnado se lhe
afigura como um paraíso sem responsabilidades.
_ Quando pretende comunicar-lhe a sua
reencarnação?
_ Pretendia esta noite, mas antes vou conversar com
Venâncio.
_ Podemos ajudar em algo?
_ Sim, procurem distrair-lo conversem o mais que
puderem, logo mais irei encontrá-lo no pavilhão de
enfermaria.
O sol, naquele momento, tingia a lua de vermelho,
formando maravilhoso crepúsculo. Dirigimo-nos ao
pavilhão onde se encontrava Raul e lá ficamos
conversando com ele. Raul mostrava-se arredio às
nossas interpelações, parecia ocultar-nos algo que
guardava dentro de si. Afrânio tinha razão, ele
pretendia alguma coisa que não queria que
soubéssemos. Percebia-se pelas perguntas que nos
fazia.
_ Vocês já foram sozinhos à crosta?
_ Sim, algumas vezes, por quê?
_ Vou poder ir algum dia?
_ Sim, desde que demonstre estar plenamente
equilibrado para isso.
_ Que tipo de equilíbrio?
_ Das emoções principalmente.
_ Caso contrário ficarei preso aqui eternamente?
_ Não. Você é livre, só que não é aconselhável tal
investida sem que esteja preparo para isso.
_ Se eu quiser ir embora agora, o que pode me
acontecer?
_ ninguém vai impedi-lo, só que você vai se
comprometer gravemente com as leis que ora o
beneficiam, perdendo valiosas oportunidades de
libertação legítima.
Sabe, sinto-me fortemente atraído por Elza, e isso
está crescendo dentro de mim e a cada dia torna-se
irresistível, sinto que preciso estar perto dela.
Nesse instante, Afrânio chegou, ouvindo esse
desabafo de Raul.
_ Como está, meu querido irmão? Perguntou
Afrânio, acomodando-se entre nós.
_ Estou bem – respondeu timidamente.
_ Como é, gostaria de uma nova incursão na crosta?
_ É o que mais desejo neste momento.
_ Vou preparar para os próximos dias, procure
participar das atividades em nossa colônia, para
que não fique muito ansioso aguardando o
momento de nossa jornada. Assim que nos for
permitido, viremos buscá-lo.
Afrânio fez um sinal e nos despedimos, saindo com
ele em direção ao nosso dormitório. Estava surpreso
com a atitude dele, pensei que ia comunicar-lhe a
necessidade de retornar às experiências na matéria
e ele o convidava para um passeio na crosta!
Chegamos ao dormitório.
Décio não agüentou a curiosidade e perguntou-lhe:
_ O que aconteceu que fez com que mudasse os
planos?
_ Analisei o caso juntamente com Venâncio e dois
benfeitores da área das reencarnações que foram
unânimes em afirmar que devíamos confrontá-lo
novamente com Elza antes de lhe darmos a notícia.
Talvez o comportamento que assumir venha a
contribuir ao desiderato da reencarnação.
_ E se ele se negar a retornar conosco?
_ Vamos aguardar, não nos antecipemos aos fatos.
Afrânio despediu-se, deixando-nos com algumas
recomendações referentes a Raul.
Passaram-se três dias daquela noite. Raul
comportou-se segundo a orientação de Afrânio,
ajudou nas tarefas colaborando com os jovens que
trabalhavam no parque, cuidando das flores e das
árvores. Afrânio havia nos comunicado que
podíamos avisá-lo que naquela noite o levaríamos à
crosta. Aproximamo-nos dele, enquanto se
dedicava a um pequeno jardim de flores silvestres.
_ Como é, amigão, vamos passear?- perguntou
Décio.
_ Só se for já - respondeu sorridente.
_ Já não, mas à noite é certeza, Afrânio pediu para
avisá-lo.
_ Verdade? Eu pensei que era “papo furado” dele
só para me acalmar.
_ Afrânio não iria usar de argumento falso com
você, concorda?
_ É, realmente, ele tem sido um “cara bacana”
comigo.
_ Quando for o momento, nós vamos buscá-lo lá no
pavilhão, vai se preparando.
_ Fiquem tranqüilos, estarei esperando numa
“boa”.
Caminhávamos em direção aos pavilhões que ainda
não havíamos visitado naquela manhã, quando
Afrânio surge ao nosso lado.
_ Ué, de onde você veio? _ perguntei surpreso.
_ De lugar nenhum, estive o tempo todo ao lado de
vocês. Nós só não podemos nos ocultar daqueles
que nos são superiores.
_ Então você esteve invisível o tempo todo
enquanto conversávamos com Raul?
Assistiu ao nosso diálogo?
_ Naturalmente que sim, ali estive com essa
finalidade a fim de aquilatar as reações dele.
_ Foram normais?
_ Até certo ponto, sim.
_ E hoje à noite na crosta o que você acha?
_ Vamos aguardar, continuem a visitação nos
pavilhões e logo mais nos reuniremos”.
PERMISSÃO PARA VOLTAR
"Afrânio seguiu em direção ao edifício central e
nós; continuamos o nosso roteiro. Anoitecera. Eu e
Décio aguardávamos a chegada de Afrânio.
Comentávamos entre nós sobre a transformação de
Raul, já não se via nele aquele jovem assustado,
mas sim um espírito ardiloso, e um tanto
resguardado e insatisfeito. Estávamos envolvidos
nessas avaliações sobre o comportamento dele,
quando chegou Afrânio.
_ Estão prontos? – perguntou.
_ Sim, partiremos já? – respondeu Décio.
_ Agora mesmo, vamos apanhar o nosso irmão.
Saímos ao encontro de Raul. Estava nos
aguardando bastante tenso. Amparados por
Afrânio, rumamos em direção à crosta.
Chegamos àquela praça próxima da casa de Elizete.
Afrânio fez-lhe algumas advertências, depois
seguimos. Eram vinte e uma horas, entramos na
residência; Estavam todos reunidos à volta da mesa
da cozinha, Dona Florinda, Renato, Elizete, Júlia e
Eliza. Aproximamo-nos, Artur e Dr.Armando nos
acenaram! Dona Florinda acabava de ler um trecho
do Evangelho Segundo o Espiritismo. Desde a
recuperação de Eliza, Elizete sofrera profundas
transformações, aquela cena que assistíamos se
repetia todas as semanas. Dona Florinda começou a
comentar sobre a lição da noite, quando Raul,
mostrando-se um tanto perturbado, dirigiu-se ao
quarto que lhe pertencera, sentiu-se frustrado ao
constatar a transformação dos seus aposentos em
escritório. Voltou à cozinha, e, no momento em que
faziam as orações onde citavam seu nome, correu
para junto da mãe tentando envolve-la, mas foi em
vão. Elizete, tomada pelo fervor da prece, irradiava
uma tênue luz a sua volta o que lhe bloqueou as
intenções. Dona Florinda, registrando-lhe a
presença, falou de uma forma geral, abordando-o
indiretamente:
_ Se algum espírito foi atraído pelas nossas preces,
receba neste momento nossa manifestação de
carinho e compreensão, procure assimilar os
ensinamentos dos benfeitores que os assistem, a
fim de que possa assumir a nova condição de vida a
que foi chamado, que Deus o abençoe, vá, na paz
de Jesus.
Naquele momento, Raul saiu à rua desesperado, eu
fui ao seu encalço, mas detive-me ao vê-lo em
desabalada carreira. Afrânio chamou-me e
recomendou:
_ Provavelmente foi ao encontro de Elza. Você vai
acompanhá-lo o tempo que for necessário, ele não
poderá perceber que está sendo acompanhado por
você; eu e Décio vamos retornar à nossa colônia,
mas continuarei atento para que, no momento
oportuno, possamos auxiliá-lo novamente.
Despedimo-nos e eu rumei apreensivo em direção à
residência de Elza. Aquele encargo para mim era
inédito nas minhas experiências de espírito
desencarnado. Temia falhar ao ser descoberto por
ele, orei bastante enquanto me dirigia ao
apartamento de Elza.
Entrei...
O casal estava na sala assistindo à televisão.
Quando vi Raul ao lado dela, reagi instintivamente,
tentando ocultar-me. Abraçado a ela mostrava-se
transfigurado, seus olhos tornaram-se vermelhos
novamente, o corpo perdera as fulgurações que
mantinha quando em nossa colônia, parecia mais
velho.
Sentido a sua influência, Elza demonstrava sinais
de sonolência, desculpou-se com Sérgio dirigindose
para o quarto. Passaram rente a mim. Quando
percebi que ele realmente não registrara minha
presença, acompanhei-os, ela já estava vestida com
as trajes de dormir, Deitou-se, ele continuava
abraçado a ela que logo adormeceu. Em
determinado momento, ela começou a agitar-se
tentando sair do corpo, mas ele a dominava,
beijando-a e abraçando-a com volúpia. Nesse
momento ela acordou gritando, o que atraiu Sérgio.
_ O que aconteceu?- perguntou o esposo.
_ Acho que tive um pesadelo.
Sérgio acalmou-a ela acomodou-se novamente para
dormir. Raul, desprendendo-se dela, colocou-se em
pé à frente da cama, observando-a. Ela adormeceu
novamente, em poucos instantes desdobrava-se do
corpo.
Quando viu Raul, afastou-se, temendo-o.
_ O que você faz aqui? Onde estão os seus amigos?-
perguntou-lhe, aflita.
_ Desta vez eu vim só.
Falou, aproximando-se dela, ela recuou sentindo
que ele não estava bem.
_ O que você quer?- perguntou-lhe.
_ Eu vim para ficar, você me pertence, vamos ficar
juntos para sempre.
_ Isso não é possível, não vê que estamos em planos
diferentes?
_ Não importa, eu não vou voltar para aquele lugar,
prefiro ficar aqui com você, mesmo nessas
condições, agora ninguém pode me atrapalhar.
Raul tentou agarra-la, mas ela escapou-lhe,
refugiando-se no corpo e novamente acordou
gritando com crises de choro. Sérgio, atraído
novamente pelos seus gritos, veio ao seu encontro.
_ Elza o que está acontecendo?
_ Estou com medo, tive outro pesadelo, alguém
tentava me agarrar.
Sérgio foi até a sala, desligou o aparelho de
televisão, deitou-se ao seu lado, acalmando-a.
Nesse momento, Raul, demonstrando certa revolta,
saiu para a rua. Eu o acompanhei, dirigiu-se para a
casa dos pais, andando lentamente. No caminho,
um grupo de espíritos embriagados que
acompanhavam um alcoólatra encarnado barroulhe
os passos como pedindo alguma coisa. Em
determinado momento mostraram-se agressivos,
então interferi mostrando-me a eles que, ao ver-me,
se projetaram em desabalada carreira, tropeçando
uns sobre os outros. Raul não me percebeu,
continuando a sua caminhada.
Doía-me vê-lo naquele estado, agia contra a própria
felicidade. Eu já tinha acompanhado muitos casos
de espíritos que nos primeiros momentos se
revoltavam ante as circunstâncias da morte, mas em
pouco tempo se reajustavam à nova realidade,
tornado-se mais tarde a colaboradores da própria
família. Raul mostrava-se diferente, agindo
completamente oposto. Entramos novamente
naquele lar. Artur, quando o viu, meneou a cabeça
como que lamentando o estado dele. O jovem foi
direto para o quarto da mãe. Ali sentou em um dos
cantos, como que esperando que ela viesse ao seu
encontro. Elizete, porém, dormia sem registrar-lhe a
presença.
O dia começava despontar, a claridade invadia o
quarto através das frestas da janela. Raul
adormecera. Renato levantou-se saindo para o
trabalho, Elizete preparava Eliza para a escola
demonstrando alegria, pois cantarolava baixinho,
entretida com a filha. Já haviam saído quando Raul
despertou, vasculhou a casa toda como quem
procura alguma coisa e saiu para a rua novamente,
andando agora mais apressado. Em poucos
instantes estávamos no apartamento de Elza. Ela
tomava café da manhã. Raul abraçou-a, beijandolhe
abaixo da nuca, ela pareceu sentir, passou a mão
no local suspirando profundamente!Enquanto se
movimentava, ele acompanhava-lhe os
movimentos, sugando-lhe as forças. Com muita
dificuldade conseguiu preparar o almoço. Sérgio ,
quando chegou para almoçar, percebeu que ela não
estava bem.
_ O que você tem? Está abatida, sente alguma coisa?
_ eu não sei, sinto um peso sobre minha cabeça, às
vezes penso que vou desmaiar.
_ Talvez seja gripe.
_ Não sei não, será que não é por causa dos
comprimidos que eu estou tomando?
_ Pode ser, talvez tenha que substituí-los por outra
marca.
_ Você não acha que devíamos parar de evitar?
Esses comprimidos não fazem bem à saúde, minha
mãe sempre fala isso.
_ Eu acho que é muito cedo para termos filhos,
deixa eu me organizar primeiro.
_ Você é quem sabe.
_ Se piorar, ligue para mim, que eu venho apanhála
para levá-la ao médico.
Almoçaram e logo após Sérgio saiu. Raul mostrou
certo contentamento. Elza não conseguiu terminar a
arrumação da cozinha, acometida de sorte
sonolência, provocada por Raul que não se
desprendia dela, obrigando-a a deitar-se. Dormiu a
tarde toda, dominada por ele. Quando Sérgio
chegou à noite, precisou de muito esforço para
acordá-la.
_ O que foi? O que foi? – acordou assustada.
_ Tudo bem, sou eu, acalme-se.
_ Que hora são?
_ São quase oito horas da noite.
_ Como? Eu dormi até agora?
_ Dormiu sim, não importa, você está bem?
Elza contou-lhe o que havia sentido durante o dia,
Raul, naquele momento, retirou-se alcançando a
rua em direção à casa de Elizete. Foram quase
quarenta dias que permaneci ao lado dele nesse
vaivém. Elza, sob a influência dele, emagrecera
visivelmente, peregrinando pelos médicos. Ele a
dominava de tal forma que a fizera esquecer-se da
fé que alimentava, privando-a dos seus recursos.
Em uma das noites, quando Raul deixou a
residência de Elza, eu permaneci junto ao casal com
a finalidade de inspirá-la a buscar os recursos da
Doutrina Espírita, atendendo à orientação de
Afrânio. Sérgio chegou por volta das oito horas da
noite. Elza preparava um lanche, pois se viu
impossibilitada de cozinhar, dada a fraqueza em
que se encontrava. Sentados à mesa, acompanhei o
diálogo dos dois, colocando-me ao lado dela.
_ O que vamos fazer? A cada dia estamos nos
distanciando um do outro. Eu não tenho culpa de
ter ficado doente, parece até que você não acredita
em mim – falou Elza, quase chorando.
_ Não é nada disso, apenas estou preocupado com
você, os médicos não encontram nada que
justifique seu estado se saúde. O Dr.Oliveira disse
tratar-se de um esgotamento nervoso, aconselhoume
a levá-la a um neurologista.
_ Você acha que é da minha cabeça?
_ Não sei, Elza, precisamos descobrir.
Nesse instante atuei sobre ela, estimulando-lhe o
ânimo.
_ Por que não pensei antes?
_ O que foi? –perguntou Sérgio preocupado.
_ Nós vamos a um Centro Espírita.
_ Você acredita que será uma solução?
_ Quem sabe? Eu já li muito a respeito, pode ser
mediunidade. Quando eu assistia às palestras na
Federação Espírita, quase sempre abordavam a
influência que sofremos por parte dos espíritos
desencarnados, talvez seja este o meu problema.
Sérgio relutou um pouco, mas acabou concordando
em levá-la no dia seguinte.
Deixei-os, retornando para o lar de Elizete onde
Raul se encontrava. Afrânio aguardava-me, conteilhe
sobre a resolução do casal, ele mostrou-se
satisfeito. Raul estava acomodado no canto quarto,
quando sua mãe, de madrugada, desdobrou-se do
corpo em sua direção e acariciando-lhe a cabeça
começou a falar:
_ Meu filho, o que está fazendo com a sua vida?
_ Não importa, você me abandonou.
_ Eu não o abandonei, tenho orado bastante por
você, desejo a sua felicidade.
_ Agora eu tenho a felicidade que desejava, estou
com ela e você não pode impedir.
_ Raul, meu filho, depois que você partiu tenho
aprendido muitas coisas boas, agora sei que não
somos donos da vida de ninguém, muito menos das
pessoas que amamos; mesmo nossos filhos não nos
pertencem, devemos nos amar como irmãos.
_ Deixe-me... Deixe-me.
Senti-me penalizado ao vê-lo transfigurado
daquele jeito. Parecia um molambo humano. Por
outro lado, sentia-me feliz ao ver Elizete totalmente
transformada, seu próprio espírito mostrava-se
mais radiante. Lembrei-me das provações que
ainda teria que enfrentar nos próximos anos, então
pedi a Deus para lhe dar bastante força para
superá-las.
Afrânio despediu-se e eu aproveitei para descansar
um pouco, pois me sentia exausto, aqueles dias
absorveram-me as forças. Cochilei até o amanhecer.
Artur acordou-me quando Raul se preparava para
sair, eu o acompanhei. Logo que chegamos ao
apartamento de Elza, Raul foi se ajustando a sua
organização perispiritual tentando domina-la. Ela,
porém, mostrava-se revigorada no ânimo,
dificultando-lhe a manobra. Permaneci com eles até
a noite, colaborando para que ela se mantivesse
disposta a levar avante a decisão de comparecer à
reunião”.
RESGATANDO DÍVIDAS
“Afrânio chegou quase no mesmo instante que
Sérgio.
_ Como é, está tudo sob controle? – perguntou-me.
_ Parece que sim, pelo menos Elza está pronta, só
aguardava a chegada de Sérgio.
_ Ótimo!
Raul, parecendo pressentir alguma coisa, começou a
envolver Sérgio que se mostrou contrariado.
_ Eu acho que não devemos ir; você não está bem e
pode piorar.
_ Vamos sim, eu já estou pronta – falou Elza
decidida.
_ Vamos só perder tempo, eu acho que isso é
bobagem, você precisa mesmo é de médico.
_ Nada disso, se você não for eu vou sozinha.
Sérgio, contrariado, acabou concordando. Raul
imediatamente, agarrou-se novamente em Elza
causando-lhe mal-estar, mas mesmo assim ela se
equilibrou em Sérgio e saíram. Entramos todos no
carro, Raul nem sequer cogitava da nossa presença.
Em poucos instantes chegamos ao local; era um
salão pequeno com uma porta lateral, onde, para
minha surpresa, dona Florinda recepcionava as
pessoas que iam chegando. Elza conversou com ela,
contou-lhe o que estava acontecendo. Dona
Florinda então mandou que aguardassem, e que
mandaria chamá-los. Eles se acomodaram nos
bancos no meio da assistência. Dona Florinda
dirigiu-se à frente do público presente, abrindo a
reunião com uma prece, depois chamou um senhor
que iniciou um comentário sobre o Evangelho.
Enquanto se desenrolava sua palestra, dona
Florinda atendia as pessoas com problemas de
saúde, visto ser ela uma médium de cura. Sérgio e
Elza foram chamados, entraram em uma pequena
sala, onde ela falou novamente tudo o que estava
sentindo, e o que acontecia com ela. Naquele
momento, Dr.Armando, que assistia dona Florinda,
cedeu seu lugar a Afrânio que dominando os
recursos mediúnicos dela começou a falar:
_ Irmã, você não tem nada fisicamente, nem sofre
os sintomas da mediunidade que suspeita; apenas
você precisa cumprir a missão de mãe, recebendo
um filho em seu lar.
_ Nós achamos que ainda é muito cedo – retrucou
Sérgio.
_ Irmão querido, como podemos saber quando é
cedo ou quando é tarde para um renascimento? Só
Deus sabe.
Raul agitava-se enquanto dona Florinda falava sob
a influência de Afrânio.
_ A senhora acha que já estamos preparados?
_ Não só acho; como devem providenciar o mais
breve possível, caso contrário sua saúde correrá
sérios riscos.
Nesse momento Elza começou a passar mal, dona
Florinda aplicou-lhe um passe, desligando Raul
que, naquele instante, retirou-se em direção à rua.
Após Sérgio também beneficiar-se do passe,
retornamos ao salão, onde os dois se acomodaram
até o encerramento da reunião. Aproveitando os
momentos em que Sérgio ouvia o comentário do
Evangelho, Afrânio atuou sobre ele,
conscientizando-o da necessidade de ter um filho.
Raul havia retornado para a casa de Elizete.
Acompanhamos o casal até o apartamento deles.
_ Raul, meu irmão, não se desespere, para tudo
existe uma solução. Estamos aqui para isso,
precisamos de sua colaboração. Sabemos da
insegurança de que está acometido, por isso mesmo
queremos oferta-lhe meios seguros de sair dessa
situação difícil em que se colocou. O único
caminho que nos aponta a misericórdia divina é a
bênção do renascimento.
Raul agitou-se quase em desespero, entregando-se
ao pranto convulsivo.
Após chorar muito, acalmou-se.
_ Então, meu irmão? O que me diz?
_ Eu não sei nada, estou com muito medo.
_ Antes de você reencarnar foi feita uma
programação incluindo o seu retorno quase
imediato para novas experiências na matéria. Elza
prontificou-se a recebê-lo nos braços como filho
querido do seu coração.
Naquele instante, o rapaz voltou a chorar. Afrânio
atuou sobre ele, procurando fortalecê-lo. Venâncio
insistiu, conversando.
_ O que devo fazer? – perguntou assustado.
_ Não se preocupe, apenas se entregue à nossa
vontade, colaborando conosco com os seus
pensamentos, dentro em pouco chegarão os
benfeitores da reencarnação que nos ajudarão a
prepará-lo."
Não demorou muito e chegaram dois espíritos. Um
deles, de barbas brancas, vestia-se com um traje
longo. O outro era de aparência jovem e olhar
penetrante. Sorriram nos cumprimentando. Eles,
juntamente com Afrânio e Venâncio, rodearam
Raul.
_ Agora você nos ajude, concentrando seu
pensamento em sua imagem do tempo em que era
menino; mantenha essa imagem nítida na mente.
Naquele momento, todos se transfiguraram diante
de mim, o quarto foi tomado de uma luz diante de
mim, o quarto foi tomado de uma luz prateada,
deixando-os quase invisíveis aos meus olhos. Raul
agitava-se como se estivesse em convulsão, aos
poucos foi se retraindo até que se transformou em
uma criança quase do tamanho de um recémnascido.
Elizete, naquele momento, desdobrou-se
do corpo físico dirigindo-se até ele, tomou-o nos
braços, voltando-se para os benfeitores que pelo
seu gesto compreenderam suas intenções.
Concentraram-se novamente e todos nos vimos
transportados para o apartamento do jovem casal.
Elza estava fora do corpo, e registrou a nossa
presença. Elizete entregou-me Raul e foi ao seu
encontro. Ela afastou-se, temendo-a.
_ Não tema, minha filha, quero abraçá-la, pedindo
perdão pelo quanto tenho feito você sofrer.
Elza abaixou a cabeça. Elizete aproximou-se,
envolvendo-a num demorado abraço.
_ Minha filha, vim reparar um erro que há muito
nos tem feito sofre. Prisioneira do egoísmo; torneime
cega durante tanto tempo que não conseguia
enxergar a felicidade que você lhe oferecia. Graças
ao sofrimento que venho experimentando, dobrome
à realidade.
Voltando-se para mim, tomou novamente Raul em
seus braços, entregando-o a Elza.
_ Em nome de Deus, entrego-o sob os seus
cuidados, confiante de que você lhe dará a
felicidade que eu não fui capaz.
Elza o abraçou, envolvendo-o em suas vibrações de
amor, olhou para nós, um por um e, expressando
um sorriso de contentamento, retornou ao corpo
com Raul ajustando-se à sua organização
perispiritual. Venâncio fez um sinal, convidandonos
a partir. Os benfeitores da reencarnação
permaneceram. Nós, após acompanharmos Elizete
em retorno ao corpo, seguimos rumo à Estância de
Amor!
Reunidos no gabinete de Venâncio, fizemos
algumas considerações sobre os acontecimentos e
nos recolhemos. Eu e Décio retornamos ao nosso
pavilhão, cheios de contentamentos pelas
experiências que havíamos vivido durante aqueles
meses. Mais uma vez a bênção do trabalho se
exaltou ao nosso entendimento, como o maior
tesouro que a vida pode nos oferecer,
principalmente quando dirigido a uma causa nobre
e que envolve o bem-estar do nosso próximo. "
FIM
Livro digitado por:
GLÓRIA RABELLO
Revisado por:
MÔNICA LEITE
NOTA: Este livro foi digitado sem, qualquer intuito,
financeiro; e sim, levar à boa leitura e esclarecimentos as
pessoas que admiram a Doutrina Espírita.

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